Tuesday, December 28, 2010


Love is all and about a tragic desire


Someone was walking on the streets, perhaps was going to somewhere, to find something, to find yourself. Love is it, is a state of luck, while you are searching it. Some people that I know have been suffering because the love of someone else. A very close friend told me yesterday that he was quite nervous and depressed because he and his girlfriend had breakup. If you never pass though a situation like this someday you´ll feel the same thing; While this not happen, you can help me to understand why love is such a challenge, a terrible and a tragic desire that begins when we fall in love. And trying to find a good reason to believe in love is how I start my history:

Since the day I break up with my ex boyfriend I throught that I never be in love again, and also I was planning about live my hole life alone dedicating the days of my existence only to myself. Fortunately, I was really wrong. Later I discovered that this is a selfish point of view because we need of other people and relationships was the perfect combination to do that. Love is the way to self knowledge...

Wednesday, December 01, 2010


Entre as paredes pintadas de cor pastel, e as nuvens assumindo formas de névoa branca em tons amarelados, dando sinais de que o sol estava presente, era uma tarde, quem sabe correndo para seu final princípio de noite onde cores alaranjadas tomaram conta do céu. Então existiam alguns fetos com suas cabeças enormes e corpos esmilhinguidos a espera de carinho e atenção. Cuidado, ao tocar, ao encostar na sua cabeça pois mais parece uma superfície frágil e que a qualquer momento pode se quebrar. Uma superfície quente pulsando vida que de repente escorrega por entre os dedos das mãos de quem o carrega e cai no chão. Algo estranho acontece, como se o feto estivesse fora de um útero mas ainda não estivesse preparado para isso, então seu crânio se parte em dois como a metade de uma laranja. Para quem deixou ele cair, descuidado, em um piscar de olhos sente como se uma bala tivesse acertado em cheio seu coração, sente pesar, culpa, tenta consertar o erro e felizmente como se fosse possível o crânio se junta novamente em uma parte. Algum tempo depois, só é possível ver a cicatriz, que o feto agora bebe leva em sua cabeça.

Algumas coisas na vida podem ser contornáveis, outras mudam para sempre. Tomemos por exemplo o sentimento de confiança em si, nos outros e na vida. Tem dias que sentimos que os pés fogem do alcance da superfície e podem tocar aquelas nuvens alaranjadas com cores pastel que sugerem um entardecer dos contos de fada, porém, instantâneamente o roteiro pode se modificar e o que parecia rosa se tornar escuro em um piscar de olhos.

Penso que seja dessa forma que funcione a máquina do pensamento humano criando conceitos como confiar, respeitar, entender. Temos duas formas de ver o mundo, a ótica limpa e a ótica suja. Na primeira, você enxerga tudo muito claro, com toda a amplitude que a palavra possui, claro, limpo, confortável, transparente, verdadeiro. Na segunda você enxerga a realidade sob uma perspectiva turva, que a todo momento levanta possibilidades amedrontadores e diferentes perspectivas, muitas delas sombrias, outras não.

Se pensássemos como um computador em que os códigos binários funcionassem como uma orquestra do raciocínio não seria necessário possuir um sistema nervoso que age concomitante e frenéticamente sem que nem mesmo entendamos como nem porque. Ao tomar este fragmento de divagação, idealizando um feto perfeito, onde porém, curiosamente só o que se pode ver dele é mesmo sua cabeça que se distingue do resto do corpo e torna pequenos o resto dos membros, entendemos que talvez tudo que pensamos que possa se quebrar deixando cicatrizes é a nossa integridade e a forma com que vivemos e analisamos o mundo a partir de nossos atos.

A medida que pensamos e agimos, que criamos e construímos verdades, destruímos tantas outras. Assim a vida é um exercício de reconstrução e ao mesmo tempo de demolição. De forma que reconstruir implica necessariamente demolir. Desmanchar algo já feito para então erguer novos alicerces. È assim que funciona. Talvez o sentimento de culpa, de dor, de desconforto vivido pelas mãos que deixaram o feto escapar por entre os dedos, sejam como um presságio, uma forma de entender como podemos perdemos facilmente de nós mesmos, e modificamos a nossa própria rota de vida através de descuidos, que inevitavelmente deixarão cicatrizes, mas que felizmente podem ser reconstruídos.

Agora entendo porque muitas pessoas pensam o amor como uma tarefa de auto-destruição, no bom e no mal sentido. Pois estar em contato com outra pessoa, energia e sentimentos faz com que pensemos a existência de uma forma distinta. Pois parte-se da premissa de que agora existem duas almas a dialogar, diferente de antes em que existia uma alma em um monólogo eterno no ir e vir de suas infinitas personalidades.

È preciso renascer para transcender as fronteiras do auto-conhecimento, dosando cada fragmento para não levar ao extremo de entender que o mundo que construímos novamente é aquele que gira em torno de si mesmo, evitando cair no mal sentido, que leva o indíviduo a total anulação e a destruição literal, ao invés da descontrução.

Tuesday, November 16, 2010

The spotlight drawned in my face.

Sometimes, We feel a kind o extasy in every single moment of life.
Others everything seems complain to a disaster.

Tuesday, November 02, 2010


Enquanto você não vê...

“Uma das mudanças básicas nos últimos duzentos anos é a crescente compreensão de que a verdade é construída mais do que descoberta.” (Ernesto Laclau)

Compreender o universo aparentemente pode ser uma tarefa um tanto fácil, a maioria das pessoas pensam que o compreendem. Porém, a compreensão vai além de simplesmente entender um significado. O fato é que não pensamos em compreender há muito tempo. Nossas vidas a cada dia tornam-se mais aceleradas em busca de um fruto perfeito que convencionalmente chamamos de realizações, que por sua vez, não passam de enfadonhos artíficios criados por nós mesmos para distrair nossa existência. A compreensão então, não é palavra de primeira ordem, principalmente no que diz respeito ao nosso aspecto existencial. Nascemos sem nos compreendermos, e é esta busca penosa, e muitas vezes exaustiva, a sobrevivência, que muitas vezes se apresenta em forma de interrogação. Enquanto muita gente não vê, as pequenas singularidades do cotidiano vão desaparecendo a medida em que embrutecemos nosso espírito. Vivemos em uma era paradoxal. Ao tempo que as relações tornam-se passageiras, que nos consideramos fluidos, e desterritorializados, nômades com passaportes carimbados para dialogar entre os espaços e transitar pelas diferentes culturas presentes na sociabilidade, nos tornamos carentes. As necessidades que o mercado introjeta em nós, são uma fonte inesgotável de descontentamento e o capital o motivo pelo qual nossa satisfação ganha sentido. Somos transeuntes de uma passarela transversal, que dita a moda urbana. Esta por sua vez, muitas vezes caricata, despersonaliza os indívíduos de forma que não reconheçam mais seu papel no mundo, e é este o motivo pelo qual a compreensão não possui sentido. O último século se consagrou por solidificar no mundo uma cultura global e trocas e bens de consumo que embutem nossas mais densas fantasias, enquanto preenchemos nossas prateleiras, armários, baús, cômodas, estantes, malas, bolsas e carteiras de quinquilharias, nos despimos de sensações internas. Trasnferimos nossas energias para um mundo exterior, que não nos envia energia alguma, ou seja, dispensamos nossa força, e nosso pensamento em vão. A carência e insustentável sensação de impotência e esgotamento aumenta, pois afinal somos sensíveis, e como uma droga sintética agindo no organismo, oscilamos entre a euforia e o desolamento. Primeiro, a sensação efêmera de conquista se joga em nossa frente derrubando qualquer sentimento ruim, após o efeito passado e a droga se diluído no sangue e se dispersado através das moléculas, a sensação de perda de referencial e de insuficiência voltam a bater na porta. Em um tempo onde as igrejas se proliferam notavelmente na sociedade, reunindo centenas e milhares de pessoas que pensam evocar um deus digno, quando pelo contrário, estão investindo seus últimos centavos em um circo romano onde se paga muito caro pelo ingresso, as pessoas continuam, e se permitem, ser a cada dia, mais e mais carentes. Seria este sentimento uma divida eterna com o mundo com o qual nunca tentamos nos reconciliar. Que ao tentar afugentar nossos mais reconditos medos, vestimos a fantasia prata e aderimos a voz metálica da mecanizando nossas ações, e condicionando nosso pensamento a alcançar metas, que ilusóriamente nos trarão felicidade. Ao analisar sob este prisma, um tema que palpíta em muitas almas e fala para poucos ouvidos, percebemos que viver sim é uma tarefa fácil. Difícl é existir. A existência implica conhecermos para depois reconhecermos, enquanto todos andam enfileirados, está atitude torna-se um tanto difícil, pois afinal, porque optar pela contramão se as regras nos dizem para seguir o fluxo.

Sunday, October 17, 2010


Can we pretend that airplaines in the night sky are like shooting stars, I can use a wish right now.

" Podemos dizer que são reais os pensamentos e sentimentos de alguém, mas sempre sob reserva de garantias personalistas, já que não são tangíveis, objetivamente comprováveis."

"O ser das coisas está na percepção subjetiva e que portanto, REAL é o que emerge na consciência."

Muitas vezes já nos perguntamos se o que estamos vivendo é uma realidade, ou apenas uma perspectiva fabricada por nós mesmos. Ao constatar que a consciência não é algo que está presente como parte biológica do nosso ser, e sim como uma instância flutuante em nossa personalidade, que pode assumir diferentes formas a medida que percebemos as coisas, constatar que de certa forma o que criamos pode ser fruto de nossa imaginação sobre as coisas que realmente nos parecem concretas causa um certo receio. Estes dias procurei algumas palavras para explicar o conceito de coexistência. Quando dois corpos coexistem em um espaço, sem necessariamente misturarem-se a ponto de serem um. Muitas pessoas projetam nas relações afetivas um simbolismo de unicidade pelo fato de estarem em constante troca de idéias, sentimentos e ações, porém, é justamente através dos caracteres distintos que se estendem as definições do termo coexistir. Nunca duas pessoas poderão ocupar o mesmo espaço de matéria a menos que submerjam uma na outra. Esta submersão metafórica requer um certo esforço para compreender como nos entregamos aos laços estabelecidos por nós mesmos, estando vulneráveis de alguma forma a instigar o lado mais oculto das nossas carências. É por isso que de certa forma coexistir implica em aprendizado e auto-conhecimento, o que na maioria das vezes não se apresenta como uma tarefa fácil. A frase "criamos nossas realidades" se aplica a força que temos através do livre arbítrio de viver o que escolhemos viver, mesmo que esta escolha não tenha sido pensada, e sim uma consequência dos impulsos nervosos do nosso inconsciente. Dessa forma, para entender a realidade em que se vive no momento presente, é necessário recapitular como ela se fundou, se sob um estímulo externo, sob um desejo ou sentimento de mudança, sob uma necessidade ou carência e ainda sob uma tentativa furtiva de fuga de outra realidade. Muitas pessoas que coexistem preferem obliterar a sua própria existência para viver a outra, pois justamente estão tentando fugir de alguma coisa. Todos estamos tentando acertar mais do que errar, experimentando caminhos diversos. Racionalizando o irracionalizável, testando o intestável, corrigindo o incorrigível, adentrando um território intangível, o afetivo. O representacional, o desconhecido. O que nos agrada aos olhos, e nos acaricia a alma e ao mesmo tempo causa um certo desconforto por penetrar tão profundamente nas esferas que talvez, individualmente não tenhamos conseguido alcançar.

Estou vivendo em um momento em que as palavras podem fugir por alguns instantes, mesmo assim estou tentando converter minhas sensações em manifestações pouco esclarecedoras. Por enquanto ainda não inventaram um aparelho de diagnóstico da alma, e mesmo que inventassem duvido muito que acreditaríamos nas prescrições que nos fossem dadas, aliás, acredito que todos estamos sujeitos a sofrer por nossas próprias escolhas, mesmo que não tenhamos o nosso próprio consentimento para tomá-las. Quando se vive demais, se aceita também, os contras que esta intensidade carrega. A destemperança na dosagem de tudo, é o que talvez motive a busca pelo equilíbrio, mesmo que este seja uma utópica projeção do que jamais poderá ser alcançado, a perfeição.

Há chamas dentro de uma cápsula real chamada vida, ela queima a cada dia em que viramos as costas para o passado e enfrentamos o futuro, que talvez, não exista e seja apenas uma convenção do tempo para nos manter na estrada. Vulnerabilidade, esta é a palavra que define a sensação presente.

Sunday, September 26, 2010


Noite clara céu aberto dias em que nos permitimos mais.
Uma energia muito boa começa a renovar todos os ambientes em que se possa estar. É interessante como tudo se renova a cada instante mudando o cenário que a pouco parecia estranhamente vazio. Um momento especialmente intenso e real se transformando em algo muito bom que penetra em todos os cômodos do nosso eu. A vida é mesmo surpreendente.
Imagine uma praia com areia fina e as ondas caindo sob o sol, dia perfeito para se imaginar os melhores sonhos sentir os toda luminosidade esquentando a pele. Movimento, pessoas indo e vindo, carros criando um engarrafamento gigante no asfalto. Talvez vislumbrar que mais um final de um ano agitado se aproxima, e projetar antecipadamente dias melhores, dias de paz, dias a mais, dias que não deixaremos para trás.

Sunday, September 05, 2010


We are always looking for something.



O fato de estarmos sempre procurando por algo faz com que muitas vezes nos sintamos desconfortáveis com a própria existência. Tudo parece acertado quando de repente algo se quebra e se divide em pedaços cristalizando no chão a imagem do adeus. Adeus ao momento anterior, ao concreto que se fragmenta instantâneamente. Realmente, é muito fácil tudo mudar em uma questão impressionantemente curta de segundos. Veja seus pais, seus amigos, sua cidade natal ganhando uma roupagem nova a cada estação, rugas, ruas fechadas, olhos mais fundos do que outrora, sinaleiras, placas de sinalização, cicatrizes... Há algo que insiste em permanecer nos rondando. Esta insatisfação com o mundo, com os outros, com a natureza que por vezes se parece tão perfeita e atordoante. O imenso verde bem a frente dos olhos corrompendo a escuridão, enquanto o vento carrega nuvens leves para o norte. Há uma sensação elétrica em todos nós, de possuir super poderes para conseguir lidar com a própria energia. Qualificar a força seria qualificar a forma como esta energia se manifesta, por vezes intensa demais, capaz de elevar tudo a um estado de choque, e ao mesmo tempo tão fraca que não suporta a carga que leva sem si.

A vida desmedida. As pessoas deveriam ter um termomêtro para medir a amplitude de seu temperamento. Como isso ainda não foi inventado, elas apostam em um tabuleiro todas as fichas possíveis.

Thursday, July 29, 2010


I´m brilhant, I´m a Journalist!

Parece que foi ontem que tudo começou, subindo as escadas da faculdade com as pernas tremendo, mãos suando e coração pulsando acelerado. Abrindo um livro de infinitas páginas onde muito mais que palavras, rostos estamparam as folhas de uma história única, a minha história. A faculdade para quem se apaixona por ela, é o melhor casamento. Pois mesmo que você queira pedir o divórcio, ela te convence em instantes a não o fazê-lo. Quando descobrimos uma vocação, seja ela qual for, é como sair de um casulo que abrigava uma larva e voar como uma borboleta, isso parece clichê mas é o melhor exemplo que me vêm a mente para retratar esta relação. Eu não escolhi brincar com as letras, elas que me escolheram para interpretá-las como cartas mágicas de um baralho. O sabor da vitória é um degrau a mais da escada de acontecimentos narrada pelo livro da minha vida. Queria poder contar todos os dias, mas creio que muitos deles não vou me recordar, mas para aqueles que a memória guardou um lugar especial concedo a eternidade. O dia em que entrei na faculdade, o dia de choro ou de briga, um dia de aula entediante, um dia de graça e de riso, um dia ensolarado, outro cinzento, um dia dentro do laboratório de video, outro no de rádio, e vários, muitos dias na agência de jornalismo, que saudade. A estação mudou e permanecemos ali, até outra chegar de surpresa novamente. Como se os dias estivessem tão perto de suas páginas anteriores, posso voltar aos cenários ouvir suas vozes, sentir seus aromas, admirar seu contexto. O intervalo, o burburinho, o corredor durante o turno da noite cheio de alunos, o banco da fac, os cafés, os cigarros, os AMIGOS, os colegas, os professores. Tantas personalidades. Onde estarão contracenando? Em que palco estrelarão? Gostaria de assistir a peça de todos, mas com certeza essa não seria mais tão saborosa quanto a apresentação da minha lembrança. Uma página se fecha para outra ser aberta. ( clichê de novo) será que pessoas felizes ficam clichês? No meu caso a felicidade em dose moderada não me inspira muito não. Mesmo assim, mesmo ainda jogando com as palavras encerro meu desabafo, há algumas horas antes de receber o tão aclamado "canudo"! Adios muchachos, arriba e adelante!

Tuesday, July 27, 2010


Não interessa se as pessoas morrem a cada instante, se há crianças passando fome, se guerras silenciosas se travam entre as nações, se o mundo está a caminho do fim. A razão e a consciência se ausentaram por alguns dias e tudo que se pode sentir é uma quantidade imensa de nervos brigando entre si dentro do corpo. Extremidades que se chocam lentamente provocando pequenas explosões, percorrem toda a anatomia, a traquéia é sufocada por uma sensação de pavor. É inverno mas não faz frio, queimando está o corpo em frente a lareira acesa. A lenha se ajeita meticulosamente dentro da caixa quadrada, faiscas dançam envolvidas por uma brasa quente. Aquela cor alaranjada se projeta nos olhos cansados, foi um longo dia. Uma caixa encontra-se fechada, a um palmo de alcançá-la, as mãos correm em direção a sua superfície, levantando a tampa lentamente o fundo dá lugar a um buraco profundo e sem fim...

Saudade. Depois de procurado o sinônimo não apareceu, permaneceu ausente como o sentido que pertence, insistiu em dar as caras. Mas alguém ainda tentou denominar e para a surpresa eis então:

Do lat. solidate,soledade, solidão. atr. do arc. soydade, suydade com influência de saúde. sf.(a) 1. Lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo, suave, de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhado do desejo de tornar a vê-las ou possuí-las; nostalgia.2. Pesar da ausência de alguém que nos é querido. 3. Desiguinação comum a diversa plantas da família das dipsacáceas, principalmente da espécie Scabiosa marítima, e ás suas flores; escabiosa. 4. Planta da família das asclepiadáceas (Asclépias umbellata). 5. Bras. assobiador. 6. Bras.Cantiga da terra, entoada pelos marujos no alto mar.7. No Brasil, transforma-se o hiato desta palavra em ditongo: "sau-dade".

Quem está feliz não sente saudade. Quem é satisfeito não procura no armário trancado um objeto perdido. E se este disse que o achou, está mentindo porque quem sente saudade dificilmente a mata de uma vez só. A saudade é um serial killer. Ela vai consumindo suas vítimas aos poucos, ela se aproxima como quem não quer nada durante a noite ou ate mesmo sob a luz do dia, e instantaneamente consome-a. Quem sente saudade é saudoso de sentimentos, saudoso de sentido, de razão de ser ou de simplesmente estar. Quem lê sente saudade, quem não sabe contar também. As vezes sinto saudade de mim, de ser quem eu não fui, de estar onde não estive, de falar o que não disse ou desdizer o que deixei escapar. Mover-se com o mundo é uma constante impiedosa, é por isso que a saudade é vista como o pólo negativo do amor. Pessoas andam apressadas, não sei se estão gélidas, se não tem mais de onde tirar suas emoções, que já consumidas jazem em um terreno distante. Ou mesmo com tantos objetos de desejo, torna-se quase que impossível sentir saudade.

Veja bem, sinto saudade do mar. Do vento. Da terra. Eles continuam existindo um tanto próximos, a saudade é uma situação que gostaríamos de reviver para comprovar que podemos dominar o tempo. Utopia.

Eu não entendo porque preferi este lado da vida, o lado que deixa os pés longe do chão, é muito difícil constatar que daqui nada sei, é como se a atmosfera que me envolve não me pertencesse verdadeiramente. Procuro esconderijos para guardar meus pensamentos, ou simplesmente não os concebo. Não vejo televisão, escuto rádio para tocar a música, navego na internet para conversar, e o resto o que vai e o que fica, no fim das contas, é o que eu não sinto saudade, é a rotina, que acaba sendo sempre o tudo da mesma coisa.


As vezes parece tão simples fazer parte de tudo isso, e as ferramentas são tantas para o fazer. Mas de repente, é como se a cortina caísse sobre os ombros, e tudo se torna-se transparente. O lado de dentro é tão imenso e desconhecido, um tanto amedrontador.

Monday, July 26, 2010


O melhor esconderijo, a maior escuridão, já não servem de abrigo, já não dão proteção.

As vozes falam, ecoam sob os ouvidos fazem piruetas e giram aleatóriamente. Elas falam muito, são incessantes, reverberam palavras infinitas enquanto a língua vai consentindo. Diante do quadro, da pista, do vaivém, alegria intensa se perpetua sobre cada molécula de ser, sinto o estar, o presente, o sol se pondo ao fundo emoldurado pela janela do carro. A trilha sonora é um grito de liberdade, um som envolvente que nos acompanha até a chegada da noite.

A noite deixa os pés adormecidos. Aparece envolta a uma fumaça, luzes coloridas e vultos de pessoas passando na rua. Ela esta coberta de cinza, turva na escuridão, por hora se pinta de prateado para confundir-me. Estranhamente ligeira, ela passa, corre com as horas que trazem um dia vigoroso, mas nem tanto para quem teve suas energias consumidas pelo espetáculo noturno da insomnia. A dança que leva as mulheres a saírem sorrateiramente de suas camas durante a noite e aconchegarem-se em meio a mata deserta ouvindo o barulho das árvores batendo umas nas outras.

Sépia é a cor do telhado, tijolos que sempre deram cobertura para os melhores sonhos e também para os grandes pesadelos. Ficam encaixados uns nos outros, em formato de telha, vivem entrecortados entre si escorrendo a água da chuva límpida e gelada. Gotas que gelam os pensamentos, remontam medos soturnos, obscuridade, má intenção. Quembram-se, estilhaçam-se, caem no chão, despemcam sobre a terra atingidas pelo forte temporal. Arrasam.

Teatro diário. Você está caminhando na rua, veste seu jeans predileto, um tênis bacana que te faz sentir-se confortávelmente bem, carrega em sua carteira algumas notas para gastar no que bem entender, passeia, vê cores, saboreia um sorvete cremoso, doce e fugaz tanto quanto sua sensação de prazer. Finge não encarar as pessoas mas as observa como quem tenta decifrá-las, e de repente se depara consigo mesmo. É um reflexo do espelho da fachada da loja da esquina, que ilumina o cantinho da sua perna, faz você voltar os olhos para baixo, e percorrer o seu corpo através do espelho até o momento que encontra-se encarando a si. Para. O instante se congela, um filme pouco habitual volta a rodar na sua cabeça, frases frases, palavras, pessoas, vultos, telhas, chuva, noite, cores, medos, sonhos escuridão, sol brilhante alegria intensa, vigor... Então você percebe que precisa recuperar o seu, se pergunta quem está ali atrás da imagem refletida no espelho, questão que não passa de mera observação pois você jamais poderá responder. Começa a tentar procurar as respostas nos outros, reata as amizades, telefona para os velhos amigos, marca uma saída para conversar.

E volta novamente às palavras, recorre a elas para tecer um diálogo que quer somente conhecer a estrada que o levará ao fim. Fim do drama, fim da trama, fim do desdém. Fim da rima, fim do túnel. fim do começo.


My end is my beggining.


"En ma Fin gît mon Commencement..."
"In my End is my Beginning..."

This is the saying which Mary embroidered on her cloth of estate whilst in prison in England and is the theme running through her life. It symbolises the eternity of life after death and Mary probably drew her inspiration from the emblem adopted by her grandfather-in-law, François I of France: the salamander. The Salamander self-ignites at the end of its life, and then rises up from the ashes re-born...

Monday, July 05, 2010


As palavras apenas acontecem, como os fatos, como os acasos que não esperamos e como a esperança que de repente toma folêgo de um pobre desacreditado dianta da desgraça urbana. Eu vivo inteiramente mergulhada em mim, um dia desses gostaria de sair nadar além dos meus próprios oceanos, conhecer os corais vizinhos é algo estranhamente tentador, porém não os possuo que diferença fará. O domínio é como uma máquina escavadeira que vai desmoronando montes e montes de terra sem parar, ele se alastra rapidamente como a chama do fogo em noites de vento. E de repente se dissipa por entre a atmosfera formando uma camada marrom, epoeirada que encobre a beleza do verde macio que brota no chão. Eu sinto que não preciso formular perguntas as quais premedito as respostas, adivinho o jogo instantâneo de não fazer comparecer as palavras no alfabeto das emoções. Afinal, elas também se dissipam, se somam a poeira, ao vento, somem por entre os veios da terra e desaparecem sem que se perceba para onde foram. Eu queria ter o domínio além das palavras, queria fazer com que elas ecoassem mais do que meros significados, e sim que elas inundassem as pessoas de sensações, como um gole etílico que desce queimando na garganta. Eu gosto de bossa, também gosto de contradição. Esta estação é propícia para contradizer-me das loucuras antes consideradas insanas e me deparar com a mais pura razão. Não há o que temer quando não se tem medo, e não há medo se não haver o que temer, eu temo por não ter o domínio nem das palavras, nem de mim, muito menos dos sentimentos que elas podem evocar assim, tão indelevelmente. Se um dia eu pudesse me dissociar de mim, eu me separaria dos meus eus para ficar um pouco sozinha. Depois reataria com elas para sair a noite e brincar em algum lugar debaixo das estrelas. Eu gosto de fazer coisas proibidas, elas me incitam a ir além do que o pudor pode considerar um limite territorial. Não tendo fronteiras, somos como correntezas em mar aberto, fluindo desassossegadamente. Um clipe instantâneo de um extraordinariamente fantástico, com todo o charme que envolve um filme, quase real, que logo ultrapassa a linha dos 3 minutos e meio e torna a rodar as imagens do cotidiano. Quando as pessoas sentem prazer é mais ou menos assim. Elas fluem sumindo de si, desapegando-se do próprio corpo, sumindo em um suspiro grave ou suave, que oscila sem parar até o momento que se cala. Quando isso acontece, tudo volta ao normal, os pensamentos não estão mais tão longe... Literalmente seu corpo volta ao estado normal, e é tomado por uma vergonha de ter ido tão longe, ter nadado nos corais do vizinho. Que bobabem, deveriamos ser a favor do trânsito entre estes oceanos sem nenhum pedágio. Mas humanos, são humanos, justamente porque possuem carências, porque são uma carne mole e sem muita dureza, maleáveis de acordo com as circunstâncias e versáteis como as estações.
Just stop to think about it...thoughts

Life is such a challenge
Live it day by day
You never know what's gonna happen
A what might come your way
Just stop and think about it
There is nothing we can do
They can't live without us and
We can't live without them too

Sunday, June 27, 2010


Não sei escrever quanto estou alegre. Parecem que as palavras não fluem como das outras vezes, quando me sinto levemente melancólica. Seria um momento ideal para escrever uma carta, um poema, uma canção, ou apenas uma frase. Recolheria algumas palavras espalhadas por aí, tentaria juntá-las e de repente sairia algo como: Não tenho nada a declarar. É isso mesmo,dificilmente me sinto satisfeita com as coisas, pois geralmente elas não preenchem a necessidade do "quero mais", porém acredito que até seja bom, registrar um momento em que me encontro estranhamente em paz. Agora percebo que minha paz ocorre a curtos prazos, porque vivo girando em tantas órbitas, que o sossego passa longe de mim. Quando é quente, me sinto extasiada mas ao mesmo tempo sinto saudade do frio, quando as temperaturas caem, é interessante, se cobrir do frio, assistir a um filme ou mesmo fumar um cigarro sob a bruma da noite gelada, mas dessa forma me sinto despida de cores, então prefiro o verão. Quando ambas estações não me satisfazem vislumbro a primavera, suas flores e clima sutil....

Thursday, June 03, 2010




A inversão dos pólos...


As mulheres desde a Grécia antiga são cultuadas como Deusas capazes de gerar vida, carregarem dentro de si uma criatura. Frágeis, submissas, sensíveis, mães, meninas, crianças. Desde que o mundo é mundo o universo masculino é povoado por diversos estereótipos femininos, muitos deles subjulgando a capacidade das mulheres serem algo além de um objeto sexual. A liberação dos pólos, como se pode ver não aconteceu apenas na comunicação do século XXI, mas também na forma como estes esteríotipos paradoxalmente ganharam força através da sociedade do espetáculo. Ao tempo que as mulheres reiventaram seu papel na sociedade, povoaram os tantos espaços masculinos levando toda sua ousadia e determinação, e muitas vezes se sobressaindo muito mais do que os homens em suas atividades, houve uma perda significativa de referêncial. Afinal, qual é o esteriótipo da mulher moderna? O motivo pelo qual eu venho a escrever é a carência. Não sei se este é um mal que aflinge tanto os homens quanto as mulheres, mas percebo que especialmente elas sofrem dessa constante avassaladora. Refletir sobre este dado me faz pensar que nós mulheres evoluímos em alguns aspectos enquanto outros permaneceram intocados. O que nos faz crescer é a experiência, é ela que dita o modo como vamos nos portar no futuro, ou como percebemos o mundo no presente, e estranhamente as mulheres ao tempo que avançaram no que diz respeito aos direitos iguais com os homens, suas conquistas e suas vitórias parecem enterrar cada vez mais a hipótese de haver uma mulher verdadeiramente forte. A relação paradoxal de ser inteligente, boa profissional e ao mesmo tempo ser gostosa, ter um par de peitos desejosos, uma bunda durinha e coxas em que se possam debruçar os braços em deleite só pode ser mais uma das ilusões pós-modernas. Surge a mulher fruta, a mulher comestível a mulher que envergonha aquelas que tentam criar uma imagem equilibrada de sexo frágil nem tão frágil assim para acabar com os mitos e comprovar que as mulheres não são seres super poderosos que se comparem com a versatilidade com que os homens vestem a roupa das relações. Há poucos dias captei um diálogo no banheiro de uma festa, as mulheres reclamavam que seus parceiros não davam atenção que as traiam, mas que isso seria resolvido pois já já, "ele" ganharia um par de cornos. Fiquei pensando, realmente essa perda de referêncial de não saber quem mais se é, nem se impor nem transitar está mais do que evidente no comportamento das mulheres. Elas querem autoafirmar uma aura masculina que não lhes é própria, como se estivessem competindo com os homens em uma corrida de kart, para ver quem chega primeiro, ou no caso, quem arruma o maior numero de parceiros para dizer, olha este aqui é melhor, esta aqui é mais interessante. Na verdade, isso nada mais é do que uma sintomática de carência afetiva. As mulheres ao tomarem essa atitude abrem uma fenda gigante no coração, agora ao invés de sofrer pelos parceiros, elas sofrem por elas mesmas, se infligem a cruz de ficar com outros para "dar na cara", porque a descartabilidade também é uma constante. E o coração vai ficando mais vazio, e as experiências mais frias, e o alvo não se sabe mais qual é, nem para que lado vão as setas.
Eu sinceramente nem nos meus piores sonhos me imaginei tomando esta posição de atacante de jogo de futebol, e ao mesmo tempo só posso conceber nos meus melhores sonhos que as relações ao invés de se tornarem mais superficiais fiquem mais espessas. Talvez seja por isso, que o interesse é algo que se esvai a cada constatação. Nesse jogo, ambos os lados estão errados. E quanto mais tentam se auto afirmar mais ficam longe de seu objetivo, se é que ele ainda existe...
Se a diferença que antes fazia com que justamente os pólos se atraissem deixar de existir, serão menos com menos e mais com mais impossibilitando qualquer reação, ou como queiram, relação.


"Talvez um voltasse, talvez o outro fosse. Talvez um viajasse, talvez outro fugisse. Talvez trocassem cartas, telefonemas noturnos, dominicais, cristais e contas por sedex (...) talvez ficassem curados, ao mesmo tempo ou não. Talvez algum partisse, outro ficasse. Talvez um perdesse peso, o outro ficasse cego. Talvez não se vissem nunca mais, com olhos daqui pelo menos, talvez enlouquecessem de amor e mudassem um para a cidade do outro, ou viajassem junto para Paris (...) talvez um se matasse, o outro negativasse. Seqüestrados por um OVNI, mortos por bala perdida, quem sabe. Talvez tudo, talvez nada."

Sunday, May 30, 2010



Another flashback: AN OLD ON THE ROAD

Certa vez, enquanto a chuva entrecortava minha volta aquele lugar, percebendo aos poucos que meus pés foram longe andando por aquelas ruas de areia da cidade de interior, onde ainda os cavalos andavam sob suas pedras mal colocadas, e o sol se punha no fim do horizonte em um adeus alaranjado. Cheguei ainda noite, as luzes dos postes ofuscadas por uma pequena névoa a sua volta, um posto antigo iluminado e caminhões gigantes parados ali. Seria uma noite interminável. Havia pessoas trabalhando, um restaurante funcionando e um hotel de beira de estrada. Pouco dinheiro no bolso,uma mochila nas costas e vontade era tudo que tinha naquele momento. Resolveria simplesmente e de uma vez só meus problemas atuais. Esperei a chegada da manhã, e rumei para a rodoviária que ficava ao lado do posto. Por lá algumas horas esperei, naquele tempo estranho das primeiras horas da manhã onde o sol ainda não esquentou a terra que continua molhada de orvalho. Sentada, com uma trilha sonora nos ouvidos, um livro com poucas páginas lidas esperei a hora do ônibus chegar. Aquele lugar era tão longe, tão distante, tão incrustado no meio do nada que só na metade da manhã alcancei meu objetivo. Não me recordo ao certo onde desembarquei, a sensação era extremamente intensa, fiz um pensamento se concretizar em questão de 48 horas. Estava tudo acontecendo como o planejado, e tudo fluiu exatamente como esquematizei.Desde de minha partida até finalmente a chegada, acolhida na casa de uma pessoa amiga, tomei um banho revigorante e rumei para o fim da jornada. Era meio dia, entrei no restaurante e sentei dando as costas para a porta, passaram-se alguns minutos e a pessoa a quem eu estava à espera entrou pela porta, sem perceber minha presença sentou-se longe da mesa em que me encontrava e pos-se a degustar sua refeição. Me levantei e dirigi-me ao lugar, era uma mesa de canto, o sol cintilava através de uma janela de madeira antiga e suja, seus raios refletiam, sobre a mesa o prato de comida posto e uma coca-cola borbulhando ao seu lado foram suficientes para presenciar o momento mais "breathtaking" de todos. A face que me encarava simplesmente paralisada não sabia reagir, perdeu a expressão empalideceu, recompondo-se fez os olhos claros e incrédulos brilharem mais do que qualquer coisa, aqueles olhos eram lapidados, como se fossem rasgados por um instrumento de entalhar madeira em formas perfeitas e proporcionais, feições intensas que se vestiam de todas as fantasias possíveis, para expressar suas versões de eu...

HERE I AM

Estou diante de mim mesma em um daqueles momentos em que tudo que se busca é estar sozinha, porém a minha consciência insiste em me fazer companhia, novamente. Sinto que preciso tomar uma atitude para mudar a configuração do plano de fundo dos meus dias. Abro as páginas de um livro mas não consigo me deter as primeiras linhas, sem nem mesmo sair do prefácio fecho a brochura e volto o olhar, desta vez, para dentro de mim. É necessário esmiuçar cada compartimento do eu em busca de uma resposta para a minha inquietação neste momento. Vivo o presente encravado na rotina diária de portas abertas para as preocupações cotidianas e aparentemente alheia a outra perspectiva. Quando mergulhamos em uma sucessão de atividades ininterruptas que acabam por virem a se tornar hábitos e percebemos que estamos carentes de algo que se chama surpresa, um sopro súbito paira sobre a atmosfera dos dias abrindo caminho para que os infinitos possam se revelar em frente a nossa consciência tocando solos sinuosos com nervuras que contém dúvidas profundas ou apenas perguntas sobre alguma coisa qualquer.
Tenho absoluta certeza que o mundo se move a partir das dúvidas, das incoerências, do acaso, do inesperado, dos momentos de tensão que culminam em dias de paz, enquanto as coisas dentro de mim ao que tudo indica, se organizam da mesma forma. Porém, sinto que não se trata de dúvida o motivo da minha carência atual, não são as incertezas ou os questionamentos que me deixam com os ponteiros estranhamente acelerados, mas pelo contrário, o ritmo em que se move o meu cronograma habitual de vida. Algumas palavras perderam o sentido, falta-me descobrir aquelas que jamais ouvi o significado, expandir a consciência em direção a um universo desconhecido e encontrar-me só, como no começo, diante de mim mesma só que desta vez, longe dos hábitos que me fazem estar presa, cerrada em determinado tempo, pensamento ou lugar. Preciso descobrir novos mundos sem que eu necessite de um meio de transporte para tal, tocar novas superfícies sem necessariamente penetrá-las através de um click do mouse. Sentir novos cheiros sem que minha percepção esteja viciada em um aroma só. Neste momento posso perceber que a ruptura que eu previa pode ter acontecido sem que eu percebesse, e parte de mim tivesse seguido o fluxo normal dos dias enquanto a outra ficou na plataforma esperando pelo trem em movimento.
A confusão é uma matéria prima para a ordem, ou para o caos, depende do ponto de vista. Aparentemente estou em ordem mas o que sinto é uma sensação distante do vértice, com os pés longe do chão tocando superfícies no ar, dando cambalhotas no vazio. Em uma órbita rotativa normal, sem grandes surpresas, e ao mesmo tempo em um brinquedo que gira sem parar, tão rapidamente que não me permito enxergar o que se passa a minha volta. Estímulos, sinto que ao recebê-los me convenço que estou naqueles dias em que me faltam mantimentos para preencher a dispensa da alma. Bons livros, música nova, cores vibrantes, novidades... Sinto o coração batendo forte e talvez seja por isso que meus olhos estalam para receber um tempo de mudança, como um papel colorido que comporta um presente que já sei qual é. Não temo os segredos, os guardo em caixinhas pequenas e depois compartilho em forma de poção. Remédios que vêm injetar ânimo nas situações.
Temo que as pessoas normais, se é que elas existem, não costumam sentir-se tão perdidas porque estão mergulhadas em um grau abissal tão profundo que a mecanicidade que orienta os dias os impede de pensar, sentir ou identificar que uma mudança se faz necessária. Este é o tipo de movimento que paradoxalmente está próximo da inércia e que muitas vezes passa desapercebido. É tudo muito rápido, são flashes que se tornam imagens e se reproduzem em uma cadeia de compartilhamento em segundos, são mensagens incorporadas a um momento do dia que perdem o sentido rapidamente ao se depositarem na lixeira da nossa memória, são contatos superficiais que acenam pulverizando sorrisos na superfície que se dissipam em instantes... Disso tudo fica a certeza de que a pele e o tato podem ser uma forma de se ambientar ao toque novamente ao seu habitat sensorial que talvez tenha perdido seu caráter sensível, e de que talvez, ao fim das jornadas pelos caminhos já conhecidos dos dias eu perceba que ainda sou feita de matéria que pulsa, chora, ri, percebe e sente tudo ao seu redor, o universo nem tão distante que se descortina enquanto milhares de olhos permanecem vendados e outras tantas mãos estão acorrentadas a uma lacuna pessoal que jamais será preenchida.
Não questionarei mais a minha existência e o porque das coisas, das minhas ações geridas pelas minhas vontades ou por simples ambições se não mais provar dos aromas mais exóticos que a profusão de especiarias que continuam navegando ainda nesta era, em formas sutis de trocas e inspirações, insuflando o paladar de desejos ainda mais peculiares e únicos e o coração de um ritmo a cada dia mais acelerado do que o normal deixarem de existir, se esconderem para todo sempre e não abarcarem repentinamente na minha praia deserta com paredes de vidro e peixes de plástico colorindo a paisagem morta de uma tonalidade especial.

Sunday, May 16, 2010


Campos verdes onde as almas deleitam-se, abrigo para os desesperados sonhadores que deixaram de semear a terra, sofreram e pagaram seus pecados diante de um ato de culpa em auto punição, agora sob o horizonte azul refugiam-se recostando cada membro sobre a leiva fina e macia. O vento bate em seus ombros encorajando as almas em um afago de esperança.

I´m sitting here, beside my own body that was completely exausted of everyday life. I would like to paint a new day in the mirror, to see that future was coming to pick me up and take me high. Far away the south towns, when the sunlight is covered by the shadow of the buildings and people steps are quickly, running to discover a brave new world, where the dreams are made of real things, and the concrete doesn´t mean a jungle.


Durante a noite que aparentemente parece não ter fim, eles são chamados pelas luzes coloridas dos refletores que piscam sem parar, introjetando na íris um desejo velado que constrói necessidades supérfulas imersas em prazeres impuros. Aos olhos dos apocalípticos navegamos sem norte enquanto os fios invisíveis da ubíquidade nos recobrem de sensações diversas. Aos olhos dos otimistas vivemos em uma era em que a medida que nos movemos com uma velocidade cada vez mais rápida, e nos envolvemos em pequenos fragmentos de vida que acabam por contar a nossa história, variamos como a previsão do tempo equilibrados sobre a corda bamba da instabilidade. Tudo pode mudar, fracionar o tempo parece uma batalha diária...

Saturday, May 08, 2010


Dark and cold room



Mãos gélidas, tateam a chave de luz no escuro. A moldura da janela de vidro ao fundo deixa que o vento invada a sala sacudindo os tecidos finos da cortina. Em uma pequena mesa de centro repousam um cinzeiro e uma garrafa de whiskey escocês pela metade. A televisão está ligada, uma programação colorida projeta alguns flashes de luz no ambiente, pálido, escuro, e frio. Alguém chega em casa e tateia a chave de luz na parede procurando seu interruptor. As lâmpadas não se ascendem, naquela noite, a luz faz falta. Mãos, pernas, corpo gelado, pois nas ruas as baixas temperaturas ditam o movimento. É hora de se recolher, porém não existe para onde ir. A solidão está desmoronando as paredes com mofos e boloros para todos os lados. As pessoas se fazem presentes a todo instante com suas belas faces sorridentes e corações sem mínimas intenções ou projetos de sentimentos. Estão todos girando em uma órbita fria, onde as cores do inverno lideram um espetáculo azul. Azul, negro, cinza são as roupas dos seres metálicos que expressam suas emoções sintéticas em síntese. A multidão dança enquanto os bits e bites elevam sua adrenalina motivada pela pílula da felicidade, a bala da vez, sem cor, que lentamente vai projetando sonhos vagos no ar e dissipando-os a medida que o efeito do prazer a curto prazo vai embora...

Wednesday, April 21, 2010


Ashes and Wine.

Cada gota da chuva escorrendo no vidro, lentamente caindo sob a paisagem nebulosa exterior. A temperatura diferentemente de ontem gela as mãos. Ansiei este momento. Então, como em um filme chamado dejavú, me vejo admirando o céu negro, frio e estrelado. Às vezes é preciso sentir a presença de si mesmo para perceber que o isolamente é a melhor forma de reconhecer o discurso quem vem de dentro. Muitas imagens, muitos sons, palavras, narrativas, conversas por vezes desviam a atenção. A loucura mecânica do dia a dia é compatível com a sensação do momento em que me encontro. Tentando descrevê-lo arriscaria falar que é como comer um doce salgado, sentir algo leve pesado, perceber estranhamente que as coisas estão fora e ao mesmo tempo no lugar. Sentir-se melancólico e não triste, confortável em um caos, gostar e desgostar...

A secret Place

Imagine uma rua onde pessoas circulam frenéticamente, luzes, cores, cheiros se misturam ao burburinho do lugar. Há um movimento intenso no ir e vir dos passos apressados na calçada, enquanto as luzes dos postes iluminam o caminho e as vitrines acrescentam um charme a mais ao lugar. Pequenas redômas de vidro que fabricam sonhos de consumo, há diamantes brilhando dentro delas. Logo a multidão passante se dispersa e resta o cenário vazio. Perambulam pelos corredores estreitos das calçadas antes abrigadas por passos vindos de todos os lugares, gatos, cachorros à procura de comida e almas desconsoladas que perderam o caminho para casa em busca de diversão e satisfação momentânea nos poucos bares ainda abertos. É possível avistar uma escada, me parece que este mesmo cenário já fora concebido outras vezes, já o devo tê-lo imaginado. Há uma música ao fundo, mulheres dançam e se despem por dinheiro, enquanto sapatos lustrosos encostam-se na plataforma que as abriga sob luzes estroboscópicas e flashes verdes. Fumaça se mistura ao aroma etílico destilado no ambiente, poderia acontecer uma cena de sexo explícito ali naquele momento. Mas os falsos púdicos se escondem atrás de cortinas prateadas, onde os prazeres falam mais que a própria razão violando aos poucos os limites da condição individual e humana que o livre arbítrio os legou.

Há um fetiche em imaginar os lugares perniciosos, onde qualquer libertinagem é mera questão de gosto. Não é a primeira vez nem a última que o faço. Talvez seja uma forma de descrever o quanto estamos presos a estereótipos pré concebidos dentro de uma escala comum de papéis, que mesmo que nos achemos livres o suficiente para ser e imaginar o que quisermos, ainda assim não o fazemos. Nos auto censuramos. Levo este exemplo ao extremo para tentar compreender porque muitas vezes as coisas que dependem única e somente de nós muitas vezes não saem como gostaríamos porque simplesmente não o fazemos, deixamos passar.Temos vontades, motivações que parecem assombrações surreais, que nos assustam quando invadem nossos pensamentos em uma tarde chuvosa por exemplo. Começo a reconhecer que as únicas pessoas que se permitiram realmente exprimir sua loucura nua e crua, talvez bons escritores, artistas, inventores, no fundo, estavam apenas criando uma maneira de entender a si mesmo, que no fim das contas, acabaram por criar uma terapia coletiva que compreende um punhado de gente. Então isso acontece porque somos iguais? Não, obviamente. Mas temos as mesmas fraquezas, medos parecidos, inclusive este de violar a conduta que nos impomos, ou que alguém nos impõe. Longe de mim querer violar algo, se violássemos mais nossas mentes perceberíamos talvez que há uma caixa de segredos, a esta sim, eu sou totalmente a favor. È como reconhecer em um terreno onde só se vê grama, coisas guardadas entre as raízes mais profundas da terra. Algo me inspirou intensamente no dia de hoje, sinto isso, vivo isso, e respeito minha intensa vontade de externar em palavras.


Flash, Back, Again

Yahn Tiersen é um pianista francês incrível. Sua loucura não ultrapassa a trilha sonora de Amélie Poulain ou sua performance no piano. Porém ao tempo que invade meus ouvidos de uma melodia que embala o que tento descrever, complementa minhas palavras nas entre linhas que o discurso sonoro se permite preencher. Há um quê de mistério, drama, romance, intensidade, e extremismo em cada nota que pesa nas teclas do piano. Eu ousaria dizer que ele traduz o sentimento que é andar pelas ruas de Paris. Há um clima extremamente sentimental, e apaixonante no ar. É de senso comum ouvirmos comentários a respeito da magnitude que o simbolismo da cidade possui, porém na verdade, o que inquieta é realmente a curiosidade, tentar adivinhar o que há por trás dos rostos que se transfiguram na agitação das ruas. O que esconde cada alma. Talvez eles contemplem o belo, contemplem mais a arte do que qualquer outra paisagem no mundo, transpirem e a refletem em todos os cantos da cidade. Vivem não o amor, mas o sentimento à flor da pele, a intensidade apaixonante que é viver cada instante quando se está verdadeiramente inspirado para isso. A arte não é o ópio do povo, como na grécia antiga, somente as divindades a ousavam contemplar. A arte é o ópio da vida, da individualidade, da identidade única e não do senso comum.

Thursday, April 15, 2010


A hora do Adeus!

PARTE I
O relato de uma história de amor, apaixonante.

Depois de quatro anos, perambular pelos corredores da faculdade já não é mais a mesma coisa. Se for mesmo pra contabilizar os anos, acredito que já se passaram uns cinco. Lembro nitidamente do primeiro dia em que pus o pé direito no prédio da Faculdade de Artes e Comunicação, a tão conhecida FAC.

Era um fim de tarde de outono, principio de inverno, muitas pessoas se aglomeravam em frente ao prédio, um burburinho intenso e as escadas que levam a porta de entrada pareciam intermináveis. Entrei com as canelas tremendo. Tratava-se de uma prova de fogo, o primeiro dia na universidade. Mal sabia eu, que estava entrando em um universo da qual hoje é impossível me dissociar.

A comunicação sempre fora o meu forte. Lembro de ouvir minha mãe falar sobre as minhas incontáveis peripécias quando eu era criança. Nos encontrávamos na praia e eu subitamente sumia de seu campo de visão para ser flagrada minutos depois conversando na barraca do vizinho e muitas vezes mordiscando algum petisco que me ofereciam. Impossível também esquecer do escambo que meu falecido avô me propunha todas as sextas feiras para me incentivar a escrever. Quando chegava o meio dia, era certo que alguma surpresa eu iria encontrar na caixa do correio. Morávamos há algumas quadras de distância mas mesmo assim, a correspondência se fazia valer. Nos correspondíamos através de cartas e a cada uma que eu respondesse ganhava R$ 10,00.
Com o passar do tempo, passei a escrever mais de uma carta por semana, pois obviamente queria obter mais do que o montante proposto. Às vezes, antes mesmo do fim de semana se pronunciar eu já havia escrito e entre a carta em mãos à rua 21 de abril, onde era a casa dos meus avós. Talvez essa iniciativa tenha fortalecido meus laços com a escrita, que inconscientemente se refletiu na minha inscrição para o vestibular em jornalismo. No colégio, trocar cartas continuava sendo um dos passa tempos prediletos.
Do oitavo ao terceiro ano, juntamente com uma amiga, fazíamos uma memória diária de novidades e segredos, era algo muito valioso imerso em um certo fetichismo, porque aquelas cartas falavam da alma, sobre nossos sentimentos, nossos sonhos, medos e ilusões, era algo maravilhoso. Ao fim da escola percebi que aquela montoeira de papéis precisava ser eliminada pois além das muitas histórias elas agora abrigavam ácaros.
Então, um dia, uma tarde mais precisamente, lancei ao fogo todas aquelas memórias e o simbolismo que antes se traduzia em algo supremo através das letras que se desenhavam no papel, se esvaiu nas chamas para todo o sempre. Algumas coisas ainda tenho vivas na memória, não consegui apagar o mundo dos papéis como parte da minha existência mesmo que muitos deles tenham sido queimados até porque ao ingressar na faculdade de jornalismo, ainda com toda a tecnologia disponível, a melhor forma de expressar as idéias é um pedaço de folha qualquer e uma caneta.
Com o tempo, aquele primeiro dia de aula se tornou algo emblemático para explicar como nossa comunicação evolui. A universidade fez com que o meu mundo que até então eu considerava algo imenso e super valorizado se ampliasse de uma maneira que nenhum compasso pode tanger. Aprendi a questionar o mundo, a descobrir através das aulas teóricas, para muitos enfadonhas, o quão intrigante é constatar que meus pensamentos encontram um porto seguro comum com pessoas que distante de mim pensaram, sentiram e viveram o mundo sob a mesma ótica.
Hoje independente dos trabalhos de aula, dos livros propostos pelas disciplinas, da literatura, das notícias da televisão ou das redes sociais minha vontade de viver a comunicação ultrapassa qualquer fronteira. Parece-me que a comunicação social se fundiu a minha personalidade, lapidou o meu eu e fez com que me tornasse alguém melhor, uma profissional. Este papo aos olhos de uns pode parecer careta, mas tenho absoluta certeza que podem me chamar de tudo menos disso.
Escrevo em primeira pessoa, porque sei que muita gente sente assim. Expressar os sentimentos ao mundo não é tarefa difícil, saber contempla-los requer sensibilidade e ser nós mesmos, isso sim, é algo difícil que talvez caminhe junto do aprendizado pois afinal, somos tantos!. Agora, em pleno trabalho de conclusão, discorri a respeito da obtenção do conhecimento, novamente e inconscientemente ligando a tudo que me fez crescer e amadurecer durante estes anos na FAC. Houve algum tempo em que as risadas nos corredores foram preenchidas por momentos de indignação.
Colamos cartazes nas paredes, e com um certo espírito revolucionário auto afirmando nosso poderio jovem frenético, contestador, louco e faquiano way of life conseguimos alcançar nosso objetivo. A comunicação é isso, é deixar transcender aquilo que nós temos vontade de transpor para o mundo real, e que muitas vezes fica guardado dentro de nós. Não dá pra deixar a inspiração ir embora, ela se esvai com o tempo e demora a bater à porta novamente se não soubermos deixá-la destrancada. Começo a achar que vivo porque me comunico, vivo porque inspiro palavras, sons e gestos e os respiro novamente.

Sunday, April 11, 2010


O dia pede para que eu saia correndo daqui e vá abraçá-lo. Uma tarde ensolarada de meia- estação, um calorzinho agradável e o cachorro do vizinho acoando sem parar. Que maravilha. Neste dia tudo que eu queria era uma ilha, bem isolada, com vento, frio, neve talvez... Para que minhas idéias se convertessem em apenas um vértice. Sem precisar voltar o olhar para o movimento lá fora, nem ter os ouvidos invadidos pelo zunido encomodativo dos carros passando sem parar. Nestes dias parece que a alma grita por dentro, ela quer brigar com alguém. Raiva, deve ser esse sentimento, inexplicável que se apossa da gente quando menos se espera. Preciso refletir sobre as mudanças que a pós modernidade trouxe para a sociedade, e principalmente para a comunicação, preciso discorrer sobre cibercultura e finalizar o segundo capítulo da minha monografia, mas parece que nada flui, há uma preguiça corrosiva pairando pelo ar e ainda por cima qualquer coisa é um motivo para desviar a atenção. Eu preciso sair dessa loucura, procurar uma maneira de me interar comigo mesma, numa pronfundidade onde essa claridade não arda nos olhos e não ofusque a pupila. Estou ansiosa pelos dias frios, pela melancolia das tardes de inverno que trazem consigo uma xicara de café ou chá quente e escondem por trás da noite uma lua assustadora e nuvens negras da cor de petróleo.

Friday, April 02, 2010


We are made of us

Eu tenho sorte ao encontrar pessoas. Não acredito muito em destino, predestinação ou algo do gênero. Mas me desperta a curiosidade quando paro para pensar que muitas pessoas que surgem pelo caminho diário, mesmo aquelas que se entrecruzam e vão embora como uma longa estrada sem fim, parecem ter uma antena um ímã que conecta-se ao meu ser, as minhas verdades, as minhas sutis ou indelicadas demonstrações de sentimentos. Acredito na reciprocidade, na sinergia e no poder de atração que os corpos exercem uns com os outros. É algo divido e infernal, insano, por vezes inexplicável pois há aqueles tipos que atraem fatalmente mas desgovernam a direção ao ponto de não haver como conviver. Curiosamente são estes que na maioria das vezes fazem com que a atração se torne um campo minado, uma fogueira em chamas ou um precipício para a prática de queda livre. Escrevi em algum lugar, colocando algum sentido em resumidas palavras: "Neste momento de renovação", que conjugam uma metáfora sobre o cotidiano em que volta e meia novos personagens se entrecruzam em uma trama enlouquecedora que se chama, vida. Se eu fosse interpretar a mim mesma, não conseguiria delimitar em um roteiro o que de fato sou. Porém, se fosse interpretar minha colega de trabalho, meu chefe, minha irmã ou uma freira, saberia exatamente em quais gestos e trejeitos basear meu prólogo. A verdade é que vivemos todos em um sentido de representação, e encarar o ator eu trata-se de uma tarefa praticamente impossível, pois afinal, estamos tratando de uma ópera e nao de uma peça ou apenas de um cenário, de um mundo dividido em infímos eus, de medos, delírios, sonhos, projeções... E neste enredo, invariávelmente nossos alicerces para reconhecer afinal, qual é o papel a seguir, as pessoas, estas figuras que insurgem em meio da nossa pantomima maestral nos ajudam mesmo que por alguns segundos a reconhecer quem está atuando e quem está apenas assistindo.

Sunday, February 21, 2010


ENTRE PAPÉIS E RECORTES...

Avisto um ônibus há alguns metros de distância. De onde ele vêm?
Talvez traga consigo almas sedentas de atenção, talvez traga apenas passageiros ou não traga ninguém. Durante a manhã ensolarada onde o cheiro de madeira eucalipto se espalha pela superfície enquanto borboletas pousam e repousam inquietas sobre os recantos do imenso jardim, ouço o barulho dos pássaros zunindo em sinfônia com as máquinas e as crianças correndo na grama. Estou em movimento, sentindo o sol penetrar na pele, nos poros revitalizando os pulmões cansados de respirar o ar rançoso de uma sala com computadores. Corro e os olhos passam rapidamente fotografando as imagens que avisto nesta manhã agradável de verão. Estou isolada sob a condição da minha existência, um indivíduo a observar os recortes picoteados do universo ao seu redor. Reflito sobre a loucura, de repente ouço alguém me chamar, respondo com um aceno e prontamente esta pessoa vem até mim. Traz uma história consigo, dentro da insanidade existe um espaço para a loucura do mundo real. Ouço, respondo, penso, falo, rio. Quem vem até mim é uma adolescente, provavelmente deve ter lá seus 13, 14 anos, em vésperas de natal eu lhe pergunto quais os presentes que o Noel vai lhe trazer e ele repsonde: - esse cara não existe, é um velho pobre. Complementa acrescentando que sua mãe não vai dar presentes esse ano e que esta prestes a se mudar para a casa do pai porque apanhou do irmão. Até aí, nada de anormal. Segundos depois este alguém some juntando-se a um grupo indiscriminado de crianças, pré-adolescentes acompanhados de suas monitoras. Se não fossem as inscrições na parte superior do para-brisa daquele ônibus em que embarcaram, nem desconfiaria que se tratava mesmo é da loucura, uma loucura pura tingida pela maldade do mundo, não aquela aceita pelos indivíduos comuns e aparentemente normais, e sim a condenada pela limitação que a própria fisiologia impôe. A loucura genuína, sem máscaras. A mistura de inocência com fragilidade me faz pensar que se o mundo fosse povoado em sua maioria por este tipo de louco, talvez a humanidade ainda teria conserto.
Tudo é uma questão de ponto de vista, e geralmente esse ponto perpassa nossa capacidade sensível de compreender como as coisas funcionam e realmente são. Às vezes me disfarço com um óculos e suas lentes de aumento, noutras prefiro os escuros, e na maioria das vezes opto pelas lentes de contato. Porém, quando meus olhos repousam, e se banham na escuridão molhada de vultos encantadores, imagino um mundo despido de qualquer véu. Ao tempo que ele me fascina, assombra e hipnotiza, causa múltiplas e diversas sensações...
Fico pensando em quantas pessoas vivem no mundo, em diferentes pontos do planeta com histórias igualmente diferentes e ao mesmo tempo com dramas tão iguais. Começo a compreender que toda essa pantomima organizacional de posições privilegiadas na sociedade e outras nem tanto, se trata na verdade de uma fuga para escondermos por trás de alguns ícones a figura a qual jamais ousamos revelar aos olhos do mundo, nossa essência inteiramente corrompida e humana que insiste em perverter nossos gostos e amordaçar nossa língua enquanto queremos gritar que somos sim, extremamente diferentes e únicos.
Tudo funciona como a cadeia alimentar em que os seres puramente instintivos fazem suas presas, dependemos necessariamente de outras pessoas mesmo que de forma indireta, assim como elas dependem de nós. Neste momento não me sinto mais isolada em um lugar qualquer do planeta e sim percebo que faço parte dele, que estou em sincronia com a sua existência seja como uma consequência da reprodução ou mesmo como um agente causador das minhas revoluções, mesmo que estas sejam internas.
Estar não significa meramente a presença em si e sim o entendimento do que significa o ato presente, seja neste instante, no anterior, nos próximos minutos ou no que nosso vão entendimento considere eternidade.
Cenários modificam-se como um passe de mágica, o que antes parecia intocável ganha novos contornos lapidados por mãos de aço, e o momento que pensei reviver agora, algum tempo depois, é um reles documento invisível que guardo na minha infinitude digital.
Assim como a mudança de personagens e palcos durante esta narrativa foi o objetivo maior da minha descrição, a partir de agora alguma célula dentro de mim se modifica, alguém perde algo terrivelmente importante enquanto o outro ganha na sorte instantânea. Vive-se intensamente enquanto morrem pessoas, cortam-se árvores e constroem-se impérios de vidro inquebrantável enquanto o ônibus apinhado de crianças volta para a escola cheio de esperanças para o ano que esta por vir,comprovando que a mudança é o motivo pelo qual continuamos vivendo.

Dezembro, 09

SOBRE O ATO DE PROCRASTINAR...
É nestes dias de calor febril que sinto uma urgência interminável. Talvez seja culpa do movimento, do ir e vir em que me encontro, das plataformas reais da vida que se entre cruzam com as virtuais para dizer entre links e palavras alguma coisa que queiramos ou esperamos ouvir. Durante um bom tempo estou há adiar milhares de coisas que formam uma pilha de afazeres êncomodos, custo a me deparar frente a frente com elas mas teimo que possa ser tarde demais para começar a desfazer o volume acumulado ao longo de meses. Desta forma, penso que talvez seja hora de fazer um começo diferente do habitual. Depois de queimar os dias no sol tropical das praias do sul, nas madrugadas infindáveis regadas a muita festa, sinto que é hora de centrar a cabeça em algo pálpavel e menos fugaz. Sempre tive para mim que algumas coisas, talvez as mais efêmeras e passageiras são como uma dose única e anestésica de prazer que se dilui rapidamente na corrente sanguínea fazendo com que logo precisemos de mais uma dose, "é claro que eu tô a fim", porém, obviamente a noite sempre tem fim. Correr na chuva, sentir o entusiasmo das pessoas ao meu redor poderia ser uma premissa além de inquietante, renovadora. Porém, há algo aqui dentro que causa uma bagunça tremenda, um caos interior que eu invariávelmente demoro a ajustar. Parece que o mundo vai demolir todas as estruturas perenes e só sobrará o concreto das cidades clamando pelo meu trabalho. Volto à rotina, contra gosto, pois não é aqui que gostaria de estar, apesar de estar ciente de que é isto que devo e tenho de fazer no momento em questão. Sò queria alguém para conversar e adiar por mais algumas horas essa sensação de descontentamento que sempre toma conta de mim em determinados momentos da vida, quiçá não existisse o domingo. Talvez tenha sido o fato de voltar para onde tudo começou, a cidade pequena, as mesmas pessoas, as mesmas ruas e os mesmos trajetos. Tudo premeditado ou demais conhecido. Falta um conteúdo inquietante, um lacre para quebrar, um livro mágico para saborear, falta atenção, falta disciplina, me deixo levar pela sensação e caio logo no tédio. Quero brincar com coisas novas, mas que detenham minha atenção por mais de meia hora. Meus pés sempre dão passos mais largos do que eu possa controlar, estou deitada sob o ar, quero me segurar mas o sentimento que gravita snesta órbita me pende para baixo, é essta tal insustentável leveza do ser...

Wednesday, February 17, 2010


Praia, sol, mar, corpos representando a beleza e as horas dispensadas dentro da academia o ano inteiro para enfim exibir nas areias formas apolíneas envoltas em micro tecidos. Tanto os homens quanto as mulheres gaúchas sabem apreciar a estétíca bela e buscam arduamente este apogeu. Não estou falando de forma crítica bem pelo contrário me considero parte deste time que admira belas formas, porém não dou minha vida por elas... Aliás tenho percebido que quanto mais as pessoas se esmeram para chegar a um padrão ideal mais longe ficam de si mesmas. Como em um laboratório experimental estamos nos testando a todo o momento, queremos ser melhores constantemente, queremos possuir aquilo que há de melhor e viver intensamente a sensação do bem estar que as coisas de um modo geral nos proporcionam, sejam elas materiais, espirituais ou afetivas...
O fato é que as férias põe em prova algumas verdades que coletamos ao longo do ano e fazem elas respingarem no espelho do vento litonâneo uma reflexão propícia a este momento.
No Brasil, o ano começa de verdade depois que se encerram as atividades em torno do carnaval. Aí as pessoas correm pra as lojas comprar materiais escolares e matricular os filhos, começam a pensar em um plano de carreira e batalhar por uma posição melhor dentro da empresa, em trocar de carro ou fazer uma viagem no próximo final de ano e assim por diante. Percebo que nossa vida gira em torno de uma rotina sistemática estabelecida por metas. A meta de perder alguns quilinhos para encarar o verão seguinte, a meta de alcançar uma promoção e receber um salário maior, a meta de ser a cada dia melhor do que o outro ou melhor do que aparenta ou se consegue ser. A verdade é que esta realidade não é uma coisa a qual nós paramos e determinamos que deva ser assim, é algo que definitivamente não é pensado por nós e sim pelo fluxo em que vivemos. Não quero culpar o padrão americano e o modo como a econômia e o mercado funcionam lá, porém é inevitável perceber como nossa vida aqui se inspira nos padrões propostos acolá. Desde o nosso programa predileto, às camisetas que usamos e aos carros que sonhamos dirigir, tudo vêm com o número de série da fábrica gravado em letras garrafais mesmo que por muitas vezes nossa miopia social não consiga enxergar. Aquela velha história que começou com a explosão da indústria cultural e os modelos apresentados no cinema, que perpassou a cultura pop e a reinvenção da arte, dos meios de comunicação em geral e que agora se mescla na onda gigante que mistura todas as correntes marítimas mundiais, chamada internet.
Não estamos mais vivendo os reflexos da indústria cultural nem sob seus esteriótipos, mas nos faltam argumentos críticos para entendermos qual é a nossa verdadeira identidade na era pós-moderna.
Somos fluídos e nossas relações rápidas como o clicar do mouse, somos homo, hetero, bi- sexuais, somos workaholic, aficionados por tecnologia, somos super, megalomâniacos, somos loucos e ao mesmo tempo somos mais do que normais, esses normais que vivem dentro da normalidade cotidiana, da rotina instalada dentro do calendário abrigado pelo iphone, pelo trajeto proposto pelo GPS, pela cirurgia plástica e pela compulsão indiscriminada por qualquer coisa...
Passar alguns dias perto do mar me trouxe uma ânsia interessante de fazer as coisas acontecerem de uma forma diferente. Assim como as ondas quebram ritimadas eM um dia paradisíaco e ensolarado e logo depois quando a chuva cai, tornam-se agressivas e rebeldes, rebentam aleatóriamente causando uma verdadeira anarquia à beira mar, sinto o pensamento movimentando-se em diversas direções.
Nossa órbita diária condicionada pelo tempo muitas vezes não nos faz questionar ou simplesmente prender os olhos à nossa volta e é justamente por isso que o dia de hoje é uma premissa para começar algo relativamente novo, seja pôr a mão na massa ou entrar com o pé direito em um novo território abrigado apenas pela nossa vontade de fazer as coisas que mais gostamos tornarem-se ainda melhores independente do tempo, da convenção, do corpo, da medida ou do padrão...

Friday, January 22, 2010


::Feeling sad could be a way of building castles::

Sinto falta de ter o vento envolta dos meus braços fazendo com que eu me sinta leve por alguns instantes. A estação propícia para adentrar territórios desconhecidos aos poucos se esvai lentamente, a rotina passo a passo é um roteiro que prescreve os dias deixando-os destemperados. Queria poder sentir a intensidade da velocidade com que aos poucos alcançamos quando estamos em movimento em uma estrada em linha reta, porém, parece que o controle remoto dos dias travou no botão pause. Tudo está acontecendo e ao mesmo tempo paralisado. Gosto dos sentimentos de nostalgia, da sensação de liberdade, ser uma borboleta voando incontrolávelmente por todos os espaços enquanto as imagens passam rapidamente sem que eu consiga codificá-las claramente, formando uma narrativa rápida e desconexa, assim eu reflito. Em movimento é que consigo perceber o mundo parar, estranhamente paradoxal, porém delicioso. Acontece que ultimamente me faltam forças, me falta vontade, tesão de ir além nesse percurso contínuo. Estou fechada em uma caixa de presente aguardando um momento propício para entregar-me. A entrega é algo tentador, enquanto estamos inertes, é impossível perceber que ao nosso redor muita coisa permanece intocada. Observar é uma maneira de dizer a si mesmo que nossas verdades são reais, e que nossos sentidos estão a flor da pele. Estou dentro de um túnel metálico rumo ao dia de amanhã, sem horários marcados ou timer apitando para acordar posso tatear as paredes e descobrir algo novo enquanto a noite acontece. Aqui dentro é claro, há alguma luz que incide permanentemente nas paredes fazendo tudo brilhar. Por isso creio que a esperança seja uma maneira de nos contentarmos com as nossas próprias limitações. Enquanto você está fechado dentro de si mesmo, pode entender algo do que acontece à sua volta. Alguém de repente tenta violar o lacre dos seus sonhos fazendo-o acreditar de que são meras ilusões. Mas há algo que te diz para continuar, mesmo que você não consiga sair de dentro do túnel e se sinta preso como bolhas de gás dentro de uma garrafa, você sente que de alguma maneira vai se libertar. E então, volta ao começo, a porta de entrada e percebe que pode fazer qualquer coisa que quiser, independente do universo exterior. Se voar é algo impossível, talvez procure rastejar sobre os ladrilhos estratégicamente colocados com o rejunte dos seus anseios. E então, de repente, tudo de desenrola, abre-se uma porta em meio ao vácuo em que você se encontra, uma imagem diferente reflete na íris. Nuvens correm no céu, cores, formas, tons.....

Tuesday, January 05, 2010





" O homem é o lobo do homem"

Hoje pela manhã acordei e me deparei com um céu cinza de proporções cinematográficas. Fiquei imaginando como seria viver lá em cima, flutuando por entre a imensidão e pulando de nuvem em nuvem a procura de diversão. Acredito que talvez muitas pessoas também já alimentaram sonhos parecidos, já se imaginaram com os pés soltos e lépidos de ponta cabeça para o mundo a fim de desviar a atenção das preocupações terrenas.

Muitas vezes lamento por me faltar a complacência e o alcance para compreender que os dias embalados à vácuo na rotina, não são nada menos do que uma oportunidade de tentar novamente. Com a troca de números no calendário, e estes voltando a correr apressadamente depois das festas de fim de ano, as pessoas igualmente ansiosas nas ruas em torno de seus afazêres, constato que nada mudou. Tudo está imaculadamente intocável, não há vestígios de uma revolução, talvez porque pra mim as coisas não pararam.

Volto no tempo por alguns segundos, percebo como nossas ações condicionam nosso sucesso e também nossa queda. Até pouco tempo atrás assisti um filme do Woody Allen que retratava em capitulos extremamente intensos a vida no átrio da Pop Art de Andy Wahrol. Rodeada de drogas, sexo, mentes inquietas e personalidades perturbadoras, de beleza ímpar a vida na fábrica de sonhos da arte moderna era como uma experimentação em uma tela branca, respingos de cores dilasceravam os dias contrastando na imagem do cenário uma tonalidade ofuscante, por vezes amedontradora, noutras instigante. A loucura humana cifrada em notas para qualquer bom entendedor ler. Sempre admirei Warhol, por ter captado a partir de um recorte da realidade, a publicidade, uma sutileza colorida que revolucionou a concepção artística do mundo. Em meio a revolução da indústria cultural, onde as pessoas passavam a adquirir bens comuns para sentirem-se reais dentro de uma sociedade pautada pelo sonho americano, a beleza, o glamour, as drogas, o vício, a rebeldia, a criatividade e também a carência e miséria humana fizeram de uma das musas desta época Edie Sedgwick entrarem no túnel da autodestruição aniquilando-se e deixando para trás talvez, uma das escolhas que teria sido a melhor de sua existência, ter optado por si mesma. Andy usou do magnetismo e capacidade de expressão, da expansividade de Edie para potencializar seu movimento, a coroou como musa com uma chuva de pétalas de rosa assim como a fez despencar dos altos degraus da fama, para ser simplesmente, uma mortal em busca de uma dose química de salvação. Ela era carente, era rica, bonita e estrela, também poderia ter casado com Bob Dylan se realmente o quisesse, mais uma prova de que são os destinos bruscos que desgovernam o carro da vida, e não os acasos premeditados.

Entrei nesta narrativa do filme porque merece uma analogia, me fez refletir sobre as ações e atitudes que muitas vezes tomamos sem pensar cuidadosamente. A reflexão oscila, entre ser atraente e ao mesmo tempo repugnante, revela diferentes sensações, voltando para o céu, é como estar no paraíso e cair face a face com o chão. As extremidades são contextos extremamente excitantes, pois de qualquer forma, inspiram os mais intensos e profundos sentimentos, sejam eles bons ou ruins e isto me faz pensar que é impossível navegar nestes dias sem contagiar-se com a ingenuidade ou a incredulidade de um sonhador e sobreviver de sensações que tocam apenas a superficie de nossas carências ,que escondem-se por trás de nós como um iceberg no oceano gelado. O fato é que assombrosamente nossas escolhas tem um peso irreparável que nem o tempo, nem as nossas melhores intenções ou desejos vêm para reparar. Assim é bem possível sentir que o vazio que aumenta a insuficiencia dos dias seja na verdade um efeito de amortecimento de uma sede de intensidade quem nem mesmo um oásis em meio a um deserto de nuvens pode saciar.

Friday, January 01, 2010


É VERÃO há um calor latente lá fora, o ventilador gira rapidamente sobre minha cabeça. Uma segunda feira qualquer, poderia ser a última de minha vida, momento em questão onde também algumas pessoas devem estar nascendo. È fim de tarde, ouço os barulhos dos carros passando lá fora, o motor quente, fervendo sobre o asfalto, poeira, raios de sol ainda quentes dão as ultimas pinceladas de cor ao dia que ganha tonalidades laranja a medida que o sol se esconde no horizonte. Há um peso sobre os ombros do qual consigo me desvencilhar por alguns segundos, depois ele volta deixando o dia mais pesado do que o habitual. Alguns dias atrás pensei que estava em uma plena onda de felicidade, um sentimento de liberdade único que só pode ser provado nessas mesmas horas do entardecer sob a emoção intermitente do andar sobre duas rodas em alguma avenida da cidade e levantar as mãos para o céu vislumbrando no horizonte um rastro de estrela e nuvens brancas que mais parecem flocos de algodão e ganham formatos de objetos a medida que fixo o olhar nelas durante um espasmo em segundos de velocidade. Porém nos últimos dias cansada deste exercício de contemplação habitual, com um sentimento infundado de ânsia por padecer em um momento de êxtase infindável, me subordinei à força das minhas próprias paixões, na incoerência de elucidar esta inquietude voraz, e como uma lebre me infringi ao prazer momentâneo, povoado de luxuria em lençóis prata. Me senti como uma deusa da fertilidade, envolta por um cenário exótico, requintado, atraente e sedutor, deixei os instintos tomarem forma de ações e ecoar naquele quarto murmúrios por vezes silenciosos noutras estridentes. Um ar artificial e gelado consumindo o ambiente e a fumaça de cigarro se dissipando por entre meus lábios. Estou deitada em um divã de prazeres imediatos, me chamo tesão e vou até o último resquício de satisfação que a carne pode me proporcionar. Estou em transe, há uma certa inconsciência pairando sob o ar que enganosamente parece leve. Lá fora cai chuva sem parar, trovões, céu cinza, me sinto resguardada em uma redoma de desejos com luzes coloridas de uma tonalidade artificialmente glamorosa, excitante. Me despi completamente diluindo-me em uma personagem de mim mesma, de uma parte oculta que se esconde obscuramente no entre abrir dos sorrisos da minha existência. Quando me dei por conta estava consumida pela minha própria vontade. Meus sentimentos transformaram-se em dúvidas, o paraíso terreno tomou forma de prisão, cenário macabro onde as pessoas se cerram tentando buscar a saída em uma janela dentro de si mesmas, mas na tentativa vã de encontrar o lado de fora se perdem no confluente de suas mais misteriosas visões. Não parei para pensar necessariamente no que meus atos podem acarretar, pois a busca de satisfação parece não ter fim, cega, inquietamente extasiada procuro uma maneira de encontrar uma alma que traga um pouco de paz como um vampiro vaga pela noite a procura de sangue para provar da intensidade dos mortais. Abro um parênteses encontro alguns amigos, atendo o telefone, espero por alguém, encontro este alguém e entre uma pantomima a fim de demonstrar quem sou eu, descubro um ser divertido na plataforma de encontros reais. Voltando ao momento em questão, estou diante de uma colossal aventura por este abismo que se chama terra, onde pessoas vem e vão ritmicamente e muitas vezes servem de suporte para carregar as nossas mais abstratas ilusões. Não costumo me identificar com a lógica, principalmente porque não existe lógica quando se seguem apenasos impulsos nervosos que estão em constante explosão dentro de nós, porém hei de admitir que muitas vezes a culpa, a culpa misturada ao medo de não ter mais a liberdade que a existência pode conferir pelo soprar do vento ou pelo simples estar em todos os lugares a qualquer momento, a qualquer hora com qualquer pessoa, deveria se traduzir em pensamentos sensatos para então despejar na existência um alivio estarrecedor de coerência. Como num quebra cabeça, só consigo retratar a imagem que eu mesma estou a tentar desvendar, quando todas as peças estão encaixadas proporcionando uma boa resposta para meu ângulo de visão. Realmente a cada dia procuro entender o porque de tanta insatisfação. Há um vazio tremendo a ser preenchido, um vazio que ainda carrega lastros de uma arma de fogo, o amor. Aquele sentimento contundente que te tira o sono, te leva para as alturas e te derruba no chão sem que você perceba que está caindo. As pessoas procuram amor em tudo, só que elas discriminam este sentimento, elas se perdem em seus próprios jogos de parecer serem si mesmos e acabam por não encontrar realmente alguém que as faça feliz. Justamente porque é difícil tolerar os próprios defeitos. È muito mais fácil idealizar alguém perfeito no qual possa espelhar toda a ilusão que por anos a humanidade carrega sobre a perfeição. Algo que não se materializa nunca, porque invariavelmente há um quê de fábula, de sonho, de um mundo fantástico onde as histórias reais não conseguem um suporte para acontecerem. O amor está para ser descoberto, por mim, por você, pelo o velho, pela a viúva, pelo o desempregado, pela a prostituta, pelo pai de família, pelo trabalhador, pelos desonestos e quiçá pelos corruptos e intolerantes. Talvez algumas pessoas empunhem bandeiras nesta derradeira de início de século procurando resguardá-lo em um plano supremo rodeado por ideais. Talvez se perca no rio fluido que se tornou nossos dias, ou talvez simplesmente continue sendo a mentira na qual todos gostam de acreditar, um mero entretenimento para as vontades deixando a alma a mercê de manipulações.