Sunday, May 30, 2010



Another flashback: AN OLD ON THE ROAD

Certa vez, enquanto a chuva entrecortava minha volta aquele lugar, percebendo aos poucos que meus pés foram longe andando por aquelas ruas de areia da cidade de interior, onde ainda os cavalos andavam sob suas pedras mal colocadas, e o sol se punha no fim do horizonte em um adeus alaranjado. Cheguei ainda noite, as luzes dos postes ofuscadas por uma pequena névoa a sua volta, um posto antigo iluminado e caminhões gigantes parados ali. Seria uma noite interminável. Havia pessoas trabalhando, um restaurante funcionando e um hotel de beira de estrada. Pouco dinheiro no bolso,uma mochila nas costas e vontade era tudo que tinha naquele momento. Resolveria simplesmente e de uma vez só meus problemas atuais. Esperei a chegada da manhã, e rumei para a rodoviária que ficava ao lado do posto. Por lá algumas horas esperei, naquele tempo estranho das primeiras horas da manhã onde o sol ainda não esquentou a terra que continua molhada de orvalho. Sentada, com uma trilha sonora nos ouvidos, um livro com poucas páginas lidas esperei a hora do ônibus chegar. Aquele lugar era tão longe, tão distante, tão incrustado no meio do nada que só na metade da manhã alcancei meu objetivo. Não me recordo ao certo onde desembarquei, a sensação era extremamente intensa, fiz um pensamento se concretizar em questão de 48 horas. Estava tudo acontecendo como o planejado, e tudo fluiu exatamente como esquematizei.Desde de minha partida até finalmente a chegada, acolhida na casa de uma pessoa amiga, tomei um banho revigorante e rumei para o fim da jornada. Era meio dia, entrei no restaurante e sentei dando as costas para a porta, passaram-se alguns minutos e a pessoa a quem eu estava à espera entrou pela porta, sem perceber minha presença sentou-se longe da mesa em que me encontrava e pos-se a degustar sua refeição. Me levantei e dirigi-me ao lugar, era uma mesa de canto, o sol cintilava através de uma janela de madeira antiga e suja, seus raios refletiam, sobre a mesa o prato de comida posto e uma coca-cola borbulhando ao seu lado foram suficientes para presenciar o momento mais "breathtaking" de todos. A face que me encarava simplesmente paralisada não sabia reagir, perdeu a expressão empalideceu, recompondo-se fez os olhos claros e incrédulos brilharem mais do que qualquer coisa, aqueles olhos eram lapidados, como se fossem rasgados por um instrumento de entalhar madeira em formas perfeitas e proporcionais, feições intensas que se vestiam de todas as fantasias possíveis, para expressar suas versões de eu...

HERE I AM

Estou diante de mim mesma em um daqueles momentos em que tudo que se busca é estar sozinha, porém a minha consciência insiste em me fazer companhia, novamente. Sinto que preciso tomar uma atitude para mudar a configuração do plano de fundo dos meus dias. Abro as páginas de um livro mas não consigo me deter as primeiras linhas, sem nem mesmo sair do prefácio fecho a brochura e volto o olhar, desta vez, para dentro de mim. É necessário esmiuçar cada compartimento do eu em busca de uma resposta para a minha inquietação neste momento. Vivo o presente encravado na rotina diária de portas abertas para as preocupações cotidianas e aparentemente alheia a outra perspectiva. Quando mergulhamos em uma sucessão de atividades ininterruptas que acabam por virem a se tornar hábitos e percebemos que estamos carentes de algo que se chama surpresa, um sopro súbito paira sobre a atmosfera dos dias abrindo caminho para que os infinitos possam se revelar em frente a nossa consciência tocando solos sinuosos com nervuras que contém dúvidas profundas ou apenas perguntas sobre alguma coisa qualquer.
Tenho absoluta certeza que o mundo se move a partir das dúvidas, das incoerências, do acaso, do inesperado, dos momentos de tensão que culminam em dias de paz, enquanto as coisas dentro de mim ao que tudo indica, se organizam da mesma forma. Porém, sinto que não se trata de dúvida o motivo da minha carência atual, não são as incertezas ou os questionamentos que me deixam com os ponteiros estranhamente acelerados, mas pelo contrário, o ritmo em que se move o meu cronograma habitual de vida. Algumas palavras perderam o sentido, falta-me descobrir aquelas que jamais ouvi o significado, expandir a consciência em direção a um universo desconhecido e encontrar-me só, como no começo, diante de mim mesma só que desta vez, longe dos hábitos que me fazem estar presa, cerrada em determinado tempo, pensamento ou lugar. Preciso descobrir novos mundos sem que eu necessite de um meio de transporte para tal, tocar novas superfícies sem necessariamente penetrá-las através de um click do mouse. Sentir novos cheiros sem que minha percepção esteja viciada em um aroma só. Neste momento posso perceber que a ruptura que eu previa pode ter acontecido sem que eu percebesse, e parte de mim tivesse seguido o fluxo normal dos dias enquanto a outra ficou na plataforma esperando pelo trem em movimento.
A confusão é uma matéria prima para a ordem, ou para o caos, depende do ponto de vista. Aparentemente estou em ordem mas o que sinto é uma sensação distante do vértice, com os pés longe do chão tocando superfícies no ar, dando cambalhotas no vazio. Em uma órbita rotativa normal, sem grandes surpresas, e ao mesmo tempo em um brinquedo que gira sem parar, tão rapidamente que não me permito enxergar o que se passa a minha volta. Estímulos, sinto que ao recebê-los me convenço que estou naqueles dias em que me faltam mantimentos para preencher a dispensa da alma. Bons livros, música nova, cores vibrantes, novidades... Sinto o coração batendo forte e talvez seja por isso que meus olhos estalam para receber um tempo de mudança, como um papel colorido que comporta um presente que já sei qual é. Não temo os segredos, os guardo em caixinhas pequenas e depois compartilho em forma de poção. Remédios que vêm injetar ânimo nas situações.
Temo que as pessoas normais, se é que elas existem, não costumam sentir-se tão perdidas porque estão mergulhadas em um grau abissal tão profundo que a mecanicidade que orienta os dias os impede de pensar, sentir ou identificar que uma mudança se faz necessária. Este é o tipo de movimento que paradoxalmente está próximo da inércia e que muitas vezes passa desapercebido. É tudo muito rápido, são flashes que se tornam imagens e se reproduzem em uma cadeia de compartilhamento em segundos, são mensagens incorporadas a um momento do dia que perdem o sentido rapidamente ao se depositarem na lixeira da nossa memória, são contatos superficiais que acenam pulverizando sorrisos na superfície que se dissipam em instantes... Disso tudo fica a certeza de que a pele e o tato podem ser uma forma de se ambientar ao toque novamente ao seu habitat sensorial que talvez tenha perdido seu caráter sensível, e de que talvez, ao fim das jornadas pelos caminhos já conhecidos dos dias eu perceba que ainda sou feita de matéria que pulsa, chora, ri, percebe e sente tudo ao seu redor, o universo nem tão distante que se descortina enquanto milhares de olhos permanecem vendados e outras tantas mãos estão acorrentadas a uma lacuna pessoal que jamais será preenchida.
Não questionarei mais a minha existência e o porque das coisas, das minhas ações geridas pelas minhas vontades ou por simples ambições se não mais provar dos aromas mais exóticos que a profusão de especiarias que continuam navegando ainda nesta era, em formas sutis de trocas e inspirações, insuflando o paladar de desejos ainda mais peculiares e únicos e o coração de um ritmo a cada dia mais acelerado do que o normal deixarem de existir, se esconderem para todo sempre e não abarcarem repentinamente na minha praia deserta com paredes de vidro e peixes de plástico colorindo a paisagem morta de uma tonalidade especial.