Thursday, June 03, 2010




A inversão dos pólos...


As mulheres desde a Grécia antiga são cultuadas como Deusas capazes de gerar vida, carregarem dentro de si uma criatura. Frágeis, submissas, sensíveis, mães, meninas, crianças. Desde que o mundo é mundo o universo masculino é povoado por diversos estereótipos femininos, muitos deles subjulgando a capacidade das mulheres serem algo além de um objeto sexual. A liberação dos pólos, como se pode ver não aconteceu apenas na comunicação do século XXI, mas também na forma como estes esteríotipos paradoxalmente ganharam força através da sociedade do espetáculo. Ao tempo que as mulheres reiventaram seu papel na sociedade, povoaram os tantos espaços masculinos levando toda sua ousadia e determinação, e muitas vezes se sobressaindo muito mais do que os homens em suas atividades, houve uma perda significativa de referêncial. Afinal, qual é o esteriótipo da mulher moderna? O motivo pelo qual eu venho a escrever é a carência. Não sei se este é um mal que aflinge tanto os homens quanto as mulheres, mas percebo que especialmente elas sofrem dessa constante avassaladora. Refletir sobre este dado me faz pensar que nós mulheres evoluímos em alguns aspectos enquanto outros permaneceram intocados. O que nos faz crescer é a experiência, é ela que dita o modo como vamos nos portar no futuro, ou como percebemos o mundo no presente, e estranhamente as mulheres ao tempo que avançaram no que diz respeito aos direitos iguais com os homens, suas conquistas e suas vitórias parecem enterrar cada vez mais a hipótese de haver uma mulher verdadeiramente forte. A relação paradoxal de ser inteligente, boa profissional e ao mesmo tempo ser gostosa, ter um par de peitos desejosos, uma bunda durinha e coxas em que se possam debruçar os braços em deleite só pode ser mais uma das ilusões pós-modernas. Surge a mulher fruta, a mulher comestível a mulher que envergonha aquelas que tentam criar uma imagem equilibrada de sexo frágil nem tão frágil assim para acabar com os mitos e comprovar que as mulheres não são seres super poderosos que se comparem com a versatilidade com que os homens vestem a roupa das relações. Há poucos dias captei um diálogo no banheiro de uma festa, as mulheres reclamavam que seus parceiros não davam atenção que as traiam, mas que isso seria resolvido pois já já, "ele" ganharia um par de cornos. Fiquei pensando, realmente essa perda de referêncial de não saber quem mais se é, nem se impor nem transitar está mais do que evidente no comportamento das mulheres. Elas querem autoafirmar uma aura masculina que não lhes é própria, como se estivessem competindo com os homens em uma corrida de kart, para ver quem chega primeiro, ou no caso, quem arruma o maior numero de parceiros para dizer, olha este aqui é melhor, esta aqui é mais interessante. Na verdade, isso nada mais é do que uma sintomática de carência afetiva. As mulheres ao tomarem essa atitude abrem uma fenda gigante no coração, agora ao invés de sofrer pelos parceiros, elas sofrem por elas mesmas, se infligem a cruz de ficar com outros para "dar na cara", porque a descartabilidade também é uma constante. E o coração vai ficando mais vazio, e as experiências mais frias, e o alvo não se sabe mais qual é, nem para que lado vão as setas.
Eu sinceramente nem nos meus piores sonhos me imaginei tomando esta posição de atacante de jogo de futebol, e ao mesmo tempo só posso conceber nos meus melhores sonhos que as relações ao invés de se tornarem mais superficiais fiquem mais espessas. Talvez seja por isso, que o interesse é algo que se esvai a cada constatação. Nesse jogo, ambos os lados estão errados. E quanto mais tentam se auto afirmar mais ficam longe de seu objetivo, se é que ele ainda existe...
Se a diferença que antes fazia com que justamente os pólos se atraissem deixar de existir, serão menos com menos e mais com mais impossibilitando qualquer reação, ou como queiram, relação.


"Talvez um voltasse, talvez o outro fosse. Talvez um viajasse, talvez outro fugisse. Talvez trocassem cartas, telefonemas noturnos, dominicais, cristais e contas por sedex (...) talvez ficassem curados, ao mesmo tempo ou não. Talvez algum partisse, outro ficasse. Talvez um perdesse peso, o outro ficasse cego. Talvez não se vissem nunca mais, com olhos daqui pelo menos, talvez enlouquecessem de amor e mudassem um para a cidade do outro, ou viajassem junto para Paris (...) talvez um se matasse, o outro negativasse. Seqüestrados por um OVNI, mortos por bala perdida, quem sabe. Talvez tudo, talvez nada."