Wednesday, November 25, 2009


A PORTA FECHADA


Cerro-me em um planeta.

Que mundo é este? Tão particular mas tão desconhecido.

Que mundo é este que se diz maravilhoso quando tudo que faço é fechar os olhos para não ver o que meus pensamentos querem dizer.


A dor é um misto de sensações inexplicáveis que fazem as lágrimas cairem como gotas d´aguas em uma torneira aberta para a rua. Escorrem por entre os dedos as expectativas que alimentaram meu coração para não mais voltar.

Sinto pesar, sem entender como, se ninguém está morto. Sinto um abismo dentro de mim e ao mesmo tempo enquanto a música penetra em meus ouvidos, sinto a liberdade que ela me traz em cada verso. Sinto como se estivesse em um lugar somente meu, um território palpável de sonhos secretos.


Às vezes acho que a loucura me invade, mas são nesses momentos que mais me sinto eu. Eu não quero nada eterno, só estou em busca de satisfação.

O fato de ter alguém me notando o tempo todo me perturba e ao mesmo tempo condiciona a querer mais do que posso obter. Posso simplesmente gostar que me amem sem nem mesmo amar ninguém, e posso acordar pela manhã anestesiada e sentir as árvores me abraçando, falar com elas, cantar a rima das folhas sem precisar que elas me encarem nos olhos.

Na verdade às vezes não sei se estou a interpretar o personagem de mim mesma, se estes insights são fruto da minha imaginação ou se tão somente eu pinto um quadro com as cores que quero enxergar.


Esta relação que estabeleci é um paradoxo. Enquanto um lado voa, o outro se amarra ao chão buscando o silêncio para calar a voz que esbraveja dentro de si.

No escuro, transformo essa sensações em recortes de um dia numérico do calendário. Não quero mais ser uma só para ter de acordar todas as manhãs carregando as mesmas lembranças.


Quando a outra apareceu já era tarde. As unhas pintadas de vermelho escreviam rapidamente no papel letras em forma redonda arroxadas na folha que deixa de ser branca rapidamente.

Esta mesma que voa para longe enquanto anda rapidamente no passo habitual, quer voltar para a terra onde os cheiros se pronunciam nas calçadas e as construções estão mais perto do céu. Onde o sorvete têm sabor genuíno de chocolate e os ladrilhos do chão são varridos pelas folhas laranja douradas com o movimento do vento.


Escrevo para alguém que está longe esperando que eu chegue, ansiosamente, como nos filmes dramáticos que esqueceram de editar um final feliz. Talvez eu não mande mais notícias para ninguém, fique apenas vislumbrando um resquício de lembrança boa para embarcar dentro dela e decolar em seus vôos.


Prefiro o mar revolto da personalidade refletida em um caleidoscópio do que a metade que completa outra... Entendo o ditado em que muitos acreditam que no amor as pessoas se completam. Mas não é nada disso, elas apenas deixam de ser inteiros. São seres que se invadem a medida que se ultrapassam as barreiras da intimidade sem pretensão alguma, e quando se dão por conta estão envoltos em nós de si mesmo que se tratam apenas de metades, recortes e fragmentos da própria personalidade que se moldam a partir daquilo que o pudor os fez esconder para não se perceberem frente à frente tão assustadoramente múltiplos.


Com o tempo alguns abandonam suas outras partes e passam a viver apenas uma face, a que é compatível com a metade do outro, um efeito de tolerância que muitas vezes não se traduz em amor, enquanto o outro insiste em se esconder em outrém e assim sucessivamente. Esta insustentável leveza que alguém já dizia é o peso que alguns têm de carregar, mas um peso que estimula a musculatura, enrijece-a, tornando-a não menos sensível mas porém mais resistente.

Se um coração sonha, isto não impede que o outro não sonhe também...

Egoísmo, pretensão querer ser dona de um coração e prendê-lo dentro de si, como fazem com os passáros nas gaiolas.


Agora percebo porque tanto pesar...É difícil aceitar que ser o movimento muitas vezes significa estar só. O ar, o vento, as nuvens, todas estas coisas que se movem acima de nossas cabeças vivem sozinhas apesar de pertencerem a um mesmo universo. Diria até que a lua tem um amor mal resolvido com o sol enquanto as estrelas padecem por serem astros menores e viverem em constelações. Te deixo, te abandono e te liberto para ser quem quiseres que seja pois continuarás humano e para mim de qualquer forma cheio de defeitos. Vou fechar a cortina dos olhos e ter os sonhos da moça de unhas feitas espderando o amor chegar pelo trem que passa no litoral frio e rochoso rapidamente, não deixando pistas, apenas tendo como testemunha de sua passagem a imensidão do mar a bater cadencialmente nas grandes rochas geladas.