Tuesday, January 05, 2010





" O homem é o lobo do homem"

Hoje pela manhã acordei e me deparei com um céu cinza de proporções cinematográficas. Fiquei imaginando como seria viver lá em cima, flutuando por entre a imensidão e pulando de nuvem em nuvem a procura de diversão. Acredito que talvez muitas pessoas também já alimentaram sonhos parecidos, já se imaginaram com os pés soltos e lépidos de ponta cabeça para o mundo a fim de desviar a atenção das preocupações terrenas.

Muitas vezes lamento por me faltar a complacência e o alcance para compreender que os dias embalados à vácuo na rotina, não são nada menos do que uma oportunidade de tentar novamente. Com a troca de números no calendário, e estes voltando a correr apressadamente depois das festas de fim de ano, as pessoas igualmente ansiosas nas ruas em torno de seus afazêres, constato que nada mudou. Tudo está imaculadamente intocável, não há vestígios de uma revolução, talvez porque pra mim as coisas não pararam.

Volto no tempo por alguns segundos, percebo como nossas ações condicionam nosso sucesso e também nossa queda. Até pouco tempo atrás assisti um filme do Woody Allen que retratava em capitulos extremamente intensos a vida no átrio da Pop Art de Andy Wahrol. Rodeada de drogas, sexo, mentes inquietas e personalidades perturbadoras, de beleza ímpar a vida na fábrica de sonhos da arte moderna era como uma experimentação em uma tela branca, respingos de cores dilasceravam os dias contrastando na imagem do cenário uma tonalidade ofuscante, por vezes amedontradora, noutras instigante. A loucura humana cifrada em notas para qualquer bom entendedor ler. Sempre admirei Warhol, por ter captado a partir de um recorte da realidade, a publicidade, uma sutileza colorida que revolucionou a concepção artística do mundo. Em meio a revolução da indústria cultural, onde as pessoas passavam a adquirir bens comuns para sentirem-se reais dentro de uma sociedade pautada pelo sonho americano, a beleza, o glamour, as drogas, o vício, a rebeldia, a criatividade e também a carência e miséria humana fizeram de uma das musas desta época Edie Sedgwick entrarem no túnel da autodestruição aniquilando-se e deixando para trás talvez, uma das escolhas que teria sido a melhor de sua existência, ter optado por si mesma. Andy usou do magnetismo e capacidade de expressão, da expansividade de Edie para potencializar seu movimento, a coroou como musa com uma chuva de pétalas de rosa assim como a fez despencar dos altos degraus da fama, para ser simplesmente, uma mortal em busca de uma dose química de salvação. Ela era carente, era rica, bonita e estrela, também poderia ter casado com Bob Dylan se realmente o quisesse, mais uma prova de que são os destinos bruscos que desgovernam o carro da vida, e não os acasos premeditados.

Entrei nesta narrativa do filme porque merece uma analogia, me fez refletir sobre as ações e atitudes que muitas vezes tomamos sem pensar cuidadosamente. A reflexão oscila, entre ser atraente e ao mesmo tempo repugnante, revela diferentes sensações, voltando para o céu, é como estar no paraíso e cair face a face com o chão. As extremidades são contextos extremamente excitantes, pois de qualquer forma, inspiram os mais intensos e profundos sentimentos, sejam eles bons ou ruins e isto me faz pensar que é impossível navegar nestes dias sem contagiar-se com a ingenuidade ou a incredulidade de um sonhador e sobreviver de sensações que tocam apenas a superficie de nossas carências ,que escondem-se por trás de nós como um iceberg no oceano gelado. O fato é que assombrosamente nossas escolhas tem um peso irreparável que nem o tempo, nem as nossas melhores intenções ou desejos vêm para reparar. Assim é bem possível sentir que o vazio que aumenta a insuficiencia dos dias seja na verdade um efeito de amortecimento de uma sede de intensidade quem nem mesmo um oásis em meio a um deserto de nuvens pode saciar.