Saturday, August 16, 2014



Temo dizer que por muito tempo escrevi por causa de você. Uma tristeza melancólica que me acompanhou desde que o sopro da vida adulta me acordou. Passei por muito tempo longe de registros escritos, buscando qualquer forma de felicidade encontrei mil maneiras de me manter distraída, e por consequência, a maldita distração  me afastou dos meus melhores sentimentos críticos.

Já devo ter escrito sobre isso, mas sempre fui triste, para além de contente ou qualquer coisa assim, dentro da minha tristeza eu construí um mundo com base no pensamento. Me distrai quando deixei de pensar, e acabei por não escrever mais.

Um dia encontrei uma palavra sublinhada num livro chamada amor, 4 letras, bem  simples, objetiva, sem rodeios, nada complexa como estava acostumada a imaginar, e aí, tudo se foi.

Talvez a inspiração esteja lá no fundo escondida, não sei, gostaria que ela voltasse qualquer dia desses, não gosto de escrever mecanicamente, me parece um tanto burro, previsível.

Eu gosto de pessoas que sabem tocar com as palavras, pois muitas vezes foram elas responsáveis por estabelecer uma relação de proximidade entre corpos e mentes fisicamente separados. As palavras presentes nas cartas, não essas que dispensamos sem muito cuidado nas redes sociais, estou em busca delas.

Eu tinha um amor que me fazia escrever, um amor de mim, um ideal de amor, um escritor...
Queria pelo menos mostrar que eu também sabia escrever, pra tentar aquela ponte que eu acabei de descrever no parágrafo acima. Aí certo dia, não encontrei mais o estímulo pois onde eu verdadeiramente o procurava não o podia mais encontrar.

Partiu, sem nunca dizer oi ou tchau, partiu sem nem mesmo chegar, e incrivelmente ainda tenho uma certa reminiscência desta maldita sensação.

Às vezes procuro notícias, mas sinceramente, não acredito que seja isso mesmo que me faria voltar a escrever. Tudo mudou tão de repente, assumi um biótipo novo, uma vida nova, uma imagem, um auto retrato que substituiu meu eu de antigamente. 

E por falar em retratar, queria saber quem é esta que repousa todos os dias imóvel sobre a minha cabeceira, escondeu os  sonhos no bolso da rotina e anseia fortemente para tirá-los de lá a todo custo.

Se tem uma coisa que não mudou foi a pressa, a cada dia tenho mais pressa de realizar coisas que nem mesmo sei bem o que, mas é um desejo urgente, de uma vida dinâmica que eu estou deixando passar, ou ela está passando e me deixando para trás, ou estou deixando para atrás aquilo que considerava parte de mim...

Confuso, é, talvez não seja tão óbvio e claro assim, continuo um pouco complexa, quisera eu entrar dentro desse labirinto novamente na tentativa de decifrá-lo. Mas agora tenho ajuda, tenho quem o decifre, parece tão inútil voltar...

Chove.

Mas aquela chuva fraca, sem vento, sem sabor, sem movimento. Talvez se não estivesse tudo em silêncio eu não estaria aqui. De tudo que unicamente sei, é que o segundo deve ser hipervalorizado... Carrego essa sensação radiante desde o sempre, e para sempre.

A intensidade é medida pelo grau de aproveitamento de cada segundo, este por exemplo, acredito estar aproveitando na potencia mil.

Me sinto dentro de um trem, essa é uma das minhas imagens recorrentes e a descrevo com prazer. Estou sentada em um vagão repleto de passageiros, mas me sinto só, reclusa na abstração daquele momento. Vislumbro a terra passando rapidamente, as cores se fundindo em uma tela só, isso é extremamente inspirador. Céu, nuvens de algodão, gramado verde, oceano, encostas rochosas, uma paisagem realmente espetacular...

Poderia estar em um avião, mas não seria a mesma coisa, apesar de que amo voar.
Prefiro a imagem do trem, com seus vagões percorrendo trilhos construídos por mãos humanas. Um trem rápido o suficiente para me transportar a diferentes lugares, e lento na medida que eu possa aproveitar o a paisagem durante o percurso.

Recosto a cabeça, durmo, Tenho certeza de que estou me mudando em breve, uma mudança de dentro pra fora que já faz algum tempo é parte de mim. Me mudo a cada dia, quando resolvo sair do lugar de inércia que acabei por cair.

Quero ir, insisto, quero ir, para aonde? Não interessa...

Monday, September 19, 2011


Recentemente a morte visitou minha família. Ela foi daquelas surpresas que aparecem de supetão sem que você nem tenha como recusar a visita. There´s no choice. Nenhuma chance, nenhuma janela de emergência nem uma basculante em um labirinto sem saída. De repente tudo fica cinza, mas não porque a morte seja escura, mas porque ela não é compatível com a vida, do contrário não seriam opostos um do outro. Aí, depois do susto, vem os instantes de desespero, porque como era de se esperar a morte vem pra buscar, ela não leva ninguém para passear e traz de volta. Geralmente a morte é como uma premiação de consolo para os que estão em um campeonato e chegam por último, é o caso dos velhos. Os velhos sabem que vão morrer, eles esperam por isso e de repente ela vem, premia aquela espera enfadonha que é se sentir inútil perante a sociedade pelo simples fato de ser: VELHO. Não que todo mundo se sinta assim, mas pensando da forma mais generalista possível, eu diria que uns 70% acham que morrer é um alívio dentre as circunstâncias como doença, invalidez, solidão, marginalização etc. Os outros 30% sobram para aqueles que morrem jovens, inesperadamente, como um sopro de vento em um dia quente, ou uma chuva torrencial no sertão. Então eu comecei a relativizar tal situação. Morrer só se morre uma vez, e não tem escolha, como nascer até o que tudo indica. Porque a gente não lembra se viveu outra vez ou não, e se já morreu também. No nosso dia-a-dia, os homens criam cada vez mais atrativos, aparatos, entretenimento e distrações, para nos fazer acreditar que somos imortais, e é aí que ela nos pega, não pensamos nunca, ou quase nunca sobre a MORTE. Mas ela é certeira como uma flecha, e mesmo que demore, uma hora ela vem. Agora vislumbrei uma cena de filme: O moçinho está lutando contra o bandido, todas as armas são desnecessárias, ele já esgotou todas possibilidades, então rendido, ele acaba se entregando para o adversário e morre no campo de batalha. É assim, nós estamos no campo, e uma hora ou outra a morte vem, mesmo que tenhamos armas, ou uma câmara hiperbárica como o Michael Jackson, a gente vai. Se a morte fosse narrada pelo Zé Graça seria: Pega vai e não volta, dá uma rebimbada na plantinha e cai duro no chão. Eu tentei fazer graça, porque é a partir dela que encaro a morte como consequencia, também não sei de quem foi a ideia de descrevê-la como abismo, como coisa ruim. Talvez a morte seja algo bom, para aqueles que souberam entender em vida qual é o seu sentido. Eu pulei de um extremo para o outro, em pouco tempo. Certa vez eu achava que viver, era o agora, o hoje, ao máximo possível com todos os artifícios necessários para deixar isso ainda mais intenso e alucinante. Até que cheguei a conclusão que é impossível viver tudo ao mesmo tempo. Aí eu aprendi a viver de pouco em pouco, e consegui entender porque a morte existe. Eu sinto porque meus familiares adoecem pela tristeza. Se deixam levar pelas emoções na espera de um consolo que jamais virá. Mas não me identifico com esse sentimento, porque o nosso maior desafio, é fazer diferente quando todos esperam que façamos igual.

Thursday, August 04, 2011

Learning How To Feel


                              É difícil constatar que tudo que você mais amou ou odiou ser, lentamente foge daquilo que você é hoje. Passado e presente não são necessariamente a mesma coisa, pelo contrário, insistem em se dissociar a medida que é impossível seguir em frente sob duas formas. Ou você vai por um lado, ou vai pelo outro. A velha  história da encruzilhada das escolhas. 
                         Como eu adoro sentir a sensação que meus dedos deslizam no teclado em sintonia com cada pensamento que vem à cabeça, e é tão bom poder escrever sobre o que busco ser e não sobre o que já fui, pois isto seria tão demodê. A verdade é que estou sofrendo uma grande mudança. E nenhuma mudança que seja por inteiro verdadeira, passa ilesa. A maior prova disso é a natureza. Vivemos em meio a ciclones, catástrofres naturais, chuvas torrenciais, ventos que movem montanhas e destroem civilizações, e ao que tudo indica isso é a mesma coisa que uma tempestade emocional. Uma força gritante que arde na pele e queima a alma. Fragmenta aqueles pedaçinhos que remontam uma história guardada no fundo do baú das memórias, e sustentam um frágil momento equilibrado sobre o pilar da nostalgia. 
                      Estar de olhos abertos não significa exatamente enxergar. É preciso sentir antes de tudo. "Filtrar as emoções pelo intelecto, e o intelecto pelas emoções". Colher do movimento ao redor um pedaço de esperança para fazer do resto dos dias, melhores. Não ser pego pelos detalhes, fazer a diferença. Mas ao mesmo tempo, esses nós que deixamos atrelados ao passado parecem que nunca desatam. É como fazer uma tattoagem, mesmo que você mude, ela vai permanecer em você. Isso fortalece a idéia de que tudo que eu fizer de bom, ou de ruim, vai permanecer de alguma forma em mim. Gosto do fogo por isso, ele transforma tudo que toca. Queima, reduz a cinzas formas volumétricas. E o que o volume simboliza se não houver intensidade? Nada. 

Thursday, June 30, 2011



Não lembro se foi na infância, ou se já estava na adolescência, deve ter sido um pouco dos dois, mas a Cecília Meirelles realmente marcou determinada fase na minha vida. Seus poemas simples, e ao mesmo tempo tão sábios, tão femininos, tão nossos, me aqueceram a mente nesta manhã fria e cinza.  Eu tenho fases como a lua, fazer de ser sozinha, fazer de ser sua. Devo ser uma Lua Adversa como  bem descreveu a autora, eu e mais umas tantas. No mesmo instante em que eu colei este poema aqui no blog, pude ler o relato de outra pessoa falando sobre a primeira vez que viu este poema, devia ter uns 13 anos...

 

Lua Adversa

Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia, o outro desapareceu...

Cecília Meireles
Ainda bem que eu mantenho dois lugares pra postar minhas cotidianices. Desta vez eu resolvi parafrasear:

Duas vezes e mais um pouco de mim.

Ás vezes a superficialidade
tenta me arrebatar por inteiro
Ando por aí como quem não quer nada
Vivo a vida sem rodeio
Ás vezes uma profundidade fria me consome
E mesmo que a temperatura congele meu exterior
O coração se mantém aquecido
Vibrando num ritmo encantador
Eu piro em mim mesmo
Na minha adversidade e no meu paradoxo
Se disser que nunca me contradisse
Estarei desdizendo o indizível.
E eu sei muito bem brincar com as palavras.
Assim como desaprendo quando um vento
Me vira para o norte
Me fazendo pensar
Que nunca estive no sul.
Na verdade às vezes eu tenho vontade de fugir
Mas tudo que é oposto ao que vivo
Parece intensamente mais intrigante
E em outros momentos
Eu só quero ficar
Preciso que me dêem
Um colo pra deitar.
Eu vou e volto nesta intensa sintonia
E eu ainda acho que é melhor
Estar em movimento.
Porque ao contrário do tempo
Meus ponteiros não giram e voltam para o mesmo lugar.

Tuesday, June 28, 2011

"Esta noite sonhei com minha mala. Eu estava em uma estrada e de repente a levaram. Um pivete que vestia um casaco vermelho com capuz, a levou para dentro de uma grande escola, tive que correr por salas e escadas compridas atrás dela. Em meio a essa correria me deparei com um curto circuito, algo se prendeu em torno do meu pescoço dando um choque em mim e em um homem que tentava me ajudar, ele infelizmente morreu, eu fiz mta força para aquilo nao tirar todas as minhas energias, e consegui me libertar do fio. Meus dentes estavam escuros, sai correndo em busca da minha mala,  e a avistei parada, em frente ao que parecia uma lancheria, continuei por entre as escadas e labirintos daquela imensa construção, até que enfim, cheguei ao lugar que havia a avistado. Era uma ilusão de ótica, na realidade não era minha mala que lá estava e sim um carrinho de metal com umas borrachas amarelas em volta. Foi desolador. Corri novamente, não sei como encontrei minhas coisas atiradas no chão em um monte, a mala acho que havia sumido, meu óculos de sol estava todo torto e o recuperei, nao sei como tão rapidamente perdi o interesse por todas as minhas coisas, enfim  acordei."

Com o tempo tudo se aprende, se assim mesmo for a vontade que se tem na vida.

Uma vez escrevi sobre quanto vale o amor de um homem., acho que continuo sem saber a resposta para essa pergunta. Primeiro porque um relacionamento não diz respeito a equações. Segundo porque é difícil ter um padrão de medida matemático quando se tratam de sentimentos.
Vivemos e cremos em um mundo que gostaríamos que fosse perfeito, e da mesma forma projetamos isso nas pessoas que nele vivem e que conosco convivem. Mas elas não o são.  Nada é perfeito e incrivelmente no que diz respeito aos relacionamentos, algumas histórias se repetem. Porque quando você idealiza uma realidade, inevitavelmente você cai nas armadilhas do cotidiano, do comum, do normal, afinal não somos super heróis e nosso dia-a-dia está longe de ser fantástico. Você sente, vê e pensa o mundo de uma forma, mas isso não quer dizer que o resto do universo fará o mesmo. Você cria suas fantasias, vaga pelos labirintos estreitos dos seus sonhos e às vezes desconhece o inteiro que está bem ao seu lado. Por que? Tenho duas teorias:

-Primeiro,  é infinitamente mais fácil ver tudo do modo ao qual estamos acostumados a ver e não se por no lugar do outro.

-Segundo, por vezes a realidade parece tão assustadora, então torna-se muito mais cômodo acreditar em qualquer outra coisa do que no que os próprios olhos vêem (não deixa de ser comodismo também). E é por isso que ninguém que ficou sentado em uma poltrona sem se mover,  fez alguma diferença no mundo até hoje. Seria muito fácil compreender tudo se pudéssemos optar por ligar um botão e dizer, isto é real, isto não é. Mas pelo contrário, a realidade é do tamanho da nossa consciência, e muitos a desconhecem.

Mas não se trata só disso, tudo à nossa volta é uma grande extensão elétrica que fornece energia para uma cidade. Felizmente eu tenho ciência de que faço parte desta  cadeia. E sabe o que acontece quando falta luz em uma casa?  Aparentemente nada se modifica, pois afinal são tantas casas, só uma luz apagada não parece fazer muita diferença, mas o faz. Se você subir no lugar mais alto desta cidade à noite, e tiver a percepção atenta para observar, para ver o todo, logo se dará conta que algum lugar está escuro, lá uma luz deixou de brilhar. E é exatamente assim que eu me sinto algumas vezes. É algo extremamente involuntário que sempre me sinaliza que algo não vai bem. Como aquelas pessoas que enxergam luzinhas quando estão mal de algum órgão interno ou comeram um tempero muito forte. Esta na verdade, não é uma sensação ruim, e sim esclarecedora. Dependendo do ponto de vista ela pode ser brutalmente invasiva, está aí mais uma prova de que tudo depende do ponto de vista! Se você faz parte deste grande todo, e sente que em algum lugar algo está errado, é impossível negar. "É tão certo quanto o calor do fogo", já dizia a música. E a vida inteira eu posso dizer que sinto essas coisas, e outras mais. Nestas outras mais incluo outro questionamento sobre a vida: Quanto vale o preço de uma liberdade? Existe fiança que pague?

É partindo destas duas perguntas básicas que pautaram minha reflexão, que é possível tentar descobrir o real valor de um relacionamento. Ser livre, dono de si mesmo e de suas ações, transitar pelo mundo como alguém inteiramente único, só, um indivíduo que carrega o peso de sua cruz sem dividi-la com ninguém e que apresenta uma face brilhante capaz de ofuscar a luz mais intensa, e outra proporcionalmente escura, abissal.
Ao mesmo tempo ter alguém com quem dividir tudo é tão mágico e especial, tão inspirador, se genuíno, tão importante quanto um dia de sol, mas algo que invariavelmente requer habilidades inumanas.

Um dos grandes motivos dos relacionamentos modernos não darem certo é a invenção da oferta. Preço tudo parece ter, e ao mesmo tempo tudo está em liquidação, mulheres bonitas principalmente, e já aviso de antemão, que eu não estou. Você pode ter o melhor produto em casa mas a liquidação sempre será irresistível, e isto serve mesmo para aqueles mais convictos de seus propósitos. Afinal, o ser humano tem olhos para a novidade como alguns animais o tem para a caça.

Quanto as mulheres em geral, acho uma pena que saibam que a única coisa que as faz produtos em oferta extremamente desejáveis é a embalagem. Como se todo dia fosse Páscoa, temos milhares de ovinhos em promoção, mas todos muitas vezes decorados para exprimirem exatamente o sentido oposto que a data pressupõe. E é incrível porque ainda nos dias de hoje, as pessoas caem na conversa do coelinho da Páscoa, mesmo aquelas que mais amamos.

No dia-a-dia é tão difícil perceber essas sutilezas? Ou eu que idealizo um ser humano que ainda não inventaram?  Não julgo as belas e narcisas mulheres, pois às vezes eu também sou uma delas, questiono as pequenas almas, aquelas que não podem ser nada além do que aparentam.

Por ventura descobri que algumas das minhas perguntas jamais terão resposta racional, matemática ou concreta. Mas é reconfortante saber que estou ciente da diferença entre aquilo que meus olhos enxergam e do que eles gostariam de ver, dos meus atos, da minha vida, dos meus princípios e das minhas ações, que ainda juntamente com todos os defeitos que pretendo amenizar progressivamente, me fazem ser a cada dia mais bela. Uma bela criatura, dependendo do ponto de vista. Assim até me conformo com a idéia de me tornar velha, pois a idade é ao mesmo tempo um laboratório de vida apaixonante!

Thursday, June 23, 2011

Existe um tempo em que os olhos ficam estáticos. parados, vislumbranDo uma folha em branco de papel. Como se tudo ao redor estivesse pintado com uma tinta opaca e a visão turva como os olhos míopes. De fato eles o são, às vezes escondem coisas que não queremos ver, tornando umas pequenas e outras grandes demais. Me pergunto se a visão é apenas um estímulo nervoso ou algo extremamente ligado ao que nós somos, a nossa alma, se é que ela está guardadinha em algum lugar. Quando vejo algumas coisas, não digo olhar sem perceber, enxergar e atribuir sentido, sentir com os olhos, às vezes me assombro. Pela vida ser tão perfeitamente encaixada e estarmos mesmo assim buscando uma peça que está faltando. Isso se chama instatisfação. E esse sentimento surge para os que estão de olhos bem abertos, e também para o que estão com eles cerrados. A instatistação é algo natural do ser humano, isso me faz pensar que não fomos criados para estar aqui. Para vivermos como vivemos, e esperar desta vida o que esperamos. As vezes tenho a impressão de que tudo não passa de meros objetos que criamos para nos distrair, enquanto o tempo, que parece muito rápido passa devagar. Eu sinto tudo escuro mesmo que as luzes estejam ligadas para mim, os raios do sol fugiram mas os postes estão de pé. Imagino cenas cotidianas, lugares nos quais nunca estive, mas que ao mesmo tempo me parecem tão familiares. São portas que fazem vizinhança com a minha, as vezes bato nelas, as vezes forço para entrar, mas mesmo assim, elas permanecem fechadas. Às vezes eu acho que só eu me sinto assim, é uma decisão egoísta., mas eu realmente estou sozinha nessa, afinal, quando você está do lado de fora da porta você não sabe o que há por trás dela.

Tuesday, June 21, 2011


A cachaça Pós Moderna

Faz tempo que não escrevo, que não crio que não invento.
Às vezes eu acho que passou uma eternidade desde a última vez, mas meu imediatismo costumeiro sugere que só desta vez, eu esteja dramatizando um pouquinho.
Falando sobre coisas desimportantes ou essenciais, depende do ponto de vista, em uma plataforma qualquer, nestas tardes que as gotas da chuva insistem em cair freneticamente e molhar tudo em volta, eu resisti mas resolvi tentar fazer as pazes com o teclado, e escrever um amontoado de palavras que há tempos eu não escrevia. Ora por falta de necessidade, ora por preguiça, ora por falta de inspiração. De qualquer forma, seja lá por qual motivo algo despertou infinitamente a minha vontade de teorizar. E desta vez, ou mais uma vez, é sobre a pós-modernidade, pra quem me conhece não é muita novidade, mas ok. Prosseguindo, estava eu em um desses momentos de ócio não-criativo conversando com uma colega, não posso revelar seu nome, mas me liberaram as iniciais: J.A. 23 anos, estado civil: namorando, mas ainda no papel solteira, paga suas contas, é independente até certo ponto pois não lava suas roupas e não cozinha, isso sugere que ainda mora com os pais e é melhor eu parar de dar detalhes caso contrário vão descobrir quem é a colega na narrativa em questão. Pois bem, estávamos conversando sobre a mediocridade que tem sido estes dias cinzas, frios e chuvosos, entre um café e um suspiro, o que também não deixa de ser algo extremamente clichê porque se tivessem anais para nossas frases diárias, eles iam estar floridos de palavras que combinam por associação: café, frio, chuva, ócio, trabalho, internet, porque tudo isso coexiste, mas enfim. Nesta altura do campeonato vocês me perguntam aonde anda a cachaça Pós Moderna, ok eu já estava chegando lá. A cachaça Pós-Moderna está a um milímetro de um click, é um sentimento de adição despertado no limiar do toque entre os dedos e o botão do mouse que vai tomando conta do indivíduo dominando suas vontades e dirigindo-o para janelas costumeiras. E essa aproximação se repete diariamente. O indivíduo para em frente ao desktop, aciona o botão antigamente conhecido como “power” na maioria dos aparatos eletrônicos, que não quer dizer poder e sim “ligar” hahaha, ele liga este botão e sua vida se transforma. Primeiro porque sabe que mil prazos estão voando ao seu encontro, que amigos desocupados como ele ou nem tanto, mas que sempre acham uma brechinha para postar uma besteira qualquer nas redes sociais, estão ansiosos para que ele deixe um comentário em seu mural ou página pessoal, como queiram, pra não dizer que sou partidária do facebook. Aí, todos estes indivíduos que teoricamente transitam nas ruas dizendo que estão atrasados, que não tem tempo nem de escovar os dentes, se encontram nesta órbita fluída que aparentemente é um ponto de fuga da realidade, e ficam ali, falando sobre suas cotidianices, divagando sobre o indivagável, e venerando a quantidade de comentários que surge absurdamente e compulsivamente a medida que o F5 atualiza o navegador indicados por uma tarjinha vermelha. Esta é a cachaça Pós Moderna minha gente, você não precisa ir até o boteco ao lado para fugir dos seus problemas, o mundo inteiro conspira para que você faça isso simultaneamente, enquanto trabalha e desenvolve suas atividades corriqueiras na plataforma de metal montada bem a sua frente. E nesse quesito eu insisto em falar, que em uma era como esta, é impossível falar em organização. Como um ser humano tão errante, tão transgressor, tão desconectado e ao mesmo tempo tão conectado, pode conceber a organização como princípio fundamental de sua produtividade? Inconcebível. Ainda bem que meus olhos contemplam a triste realidade bem abertos. E como toda a cachaça, o indivíduo beberica, absorve, se embriaga e perde-se em um torpor infindo para depois voltar-se para si e perceber que tudo continua a mesma coisa. A fuga foi totalmente inválida, mas por algum momento ela realmente pareceu ser a melhor saída. Este deveria ser o Slogan desta Era, desta sociedade e de nossas vidas. Duas faíscas surgiram em minha mente ao refletir neste instante: primeiro, os conceitos apresentados pelo sociólogo Zygmunt Bauman http://blogdogutemberg.blogspot.com/2008/10/vivemos-numa-sociedade-lquida.html em sua Modernidade Líquida, acerca da Pós-Modernidade e que muito contemplam o estudo desta sociedade, ainda na faculdade, quando falávamos da identidade dos indivíduos na era em que vivemos, e tentávamos compreender, acima de tudo, quem somos, pois afinal, ninguém se dissocia do fenômeno estando plenamente integrado ao sistema. E segundo, na a maneira como percebo estes tantos indivíduos, amigos, não amigos, parentes, conhecidos que transitam em um mundo virtual que se trata de um espelho que reflete prazeres e satisfações momentâneas, na liquidez que faz dessas identidades por sua vez,  um espelho d´agua, ou de cachaça, onde eles instantaneamente modificam-se, assumem diferentes faces, tornando-se outros a medida que a necessidade convém. Que coisa mais louca, mas está e a nossa vida minha gentchy! E vamos nessa que agora só falta eu fazer o unpload e compartilhar o texto no facebook.