Friday, January 22, 2010


::Feeling sad could be a way of building castles::

Sinto falta de ter o vento envolta dos meus braços fazendo com que eu me sinta leve por alguns instantes. A estação propícia para adentrar territórios desconhecidos aos poucos se esvai lentamente, a rotina passo a passo é um roteiro que prescreve os dias deixando-os destemperados. Queria poder sentir a intensidade da velocidade com que aos poucos alcançamos quando estamos em movimento em uma estrada em linha reta, porém, parece que o controle remoto dos dias travou no botão pause. Tudo está acontecendo e ao mesmo tempo paralisado. Gosto dos sentimentos de nostalgia, da sensação de liberdade, ser uma borboleta voando incontrolávelmente por todos os espaços enquanto as imagens passam rapidamente sem que eu consiga codificá-las claramente, formando uma narrativa rápida e desconexa, assim eu reflito. Em movimento é que consigo perceber o mundo parar, estranhamente paradoxal, porém delicioso. Acontece que ultimamente me faltam forças, me falta vontade, tesão de ir além nesse percurso contínuo. Estou fechada em uma caixa de presente aguardando um momento propício para entregar-me. A entrega é algo tentador, enquanto estamos inertes, é impossível perceber que ao nosso redor muita coisa permanece intocada. Observar é uma maneira de dizer a si mesmo que nossas verdades são reais, e que nossos sentidos estão a flor da pele. Estou dentro de um túnel metálico rumo ao dia de amanhã, sem horários marcados ou timer apitando para acordar posso tatear as paredes e descobrir algo novo enquanto a noite acontece. Aqui dentro é claro, há alguma luz que incide permanentemente nas paredes fazendo tudo brilhar. Por isso creio que a esperança seja uma maneira de nos contentarmos com as nossas próprias limitações. Enquanto você está fechado dentro de si mesmo, pode entender algo do que acontece à sua volta. Alguém de repente tenta violar o lacre dos seus sonhos fazendo-o acreditar de que são meras ilusões. Mas há algo que te diz para continuar, mesmo que você não consiga sair de dentro do túnel e se sinta preso como bolhas de gás dentro de uma garrafa, você sente que de alguma maneira vai se libertar. E então, volta ao começo, a porta de entrada e percebe que pode fazer qualquer coisa que quiser, independente do universo exterior. Se voar é algo impossível, talvez procure rastejar sobre os ladrilhos estratégicamente colocados com o rejunte dos seus anseios. E então, de repente, tudo de desenrola, abre-se uma porta em meio ao vácuo em que você se encontra, uma imagem diferente reflete na íris. Nuvens correm no céu, cores, formas, tons.....

Tuesday, January 05, 2010





" O homem é o lobo do homem"

Hoje pela manhã acordei e me deparei com um céu cinza de proporções cinematográficas. Fiquei imaginando como seria viver lá em cima, flutuando por entre a imensidão e pulando de nuvem em nuvem a procura de diversão. Acredito que talvez muitas pessoas também já alimentaram sonhos parecidos, já se imaginaram com os pés soltos e lépidos de ponta cabeça para o mundo a fim de desviar a atenção das preocupações terrenas.

Muitas vezes lamento por me faltar a complacência e o alcance para compreender que os dias embalados à vácuo na rotina, não são nada menos do que uma oportunidade de tentar novamente. Com a troca de números no calendário, e estes voltando a correr apressadamente depois das festas de fim de ano, as pessoas igualmente ansiosas nas ruas em torno de seus afazêres, constato que nada mudou. Tudo está imaculadamente intocável, não há vestígios de uma revolução, talvez porque pra mim as coisas não pararam.

Volto no tempo por alguns segundos, percebo como nossas ações condicionam nosso sucesso e também nossa queda. Até pouco tempo atrás assisti um filme do Woody Allen que retratava em capitulos extremamente intensos a vida no átrio da Pop Art de Andy Wahrol. Rodeada de drogas, sexo, mentes inquietas e personalidades perturbadoras, de beleza ímpar a vida na fábrica de sonhos da arte moderna era como uma experimentação em uma tela branca, respingos de cores dilasceravam os dias contrastando na imagem do cenário uma tonalidade ofuscante, por vezes amedontradora, noutras instigante. A loucura humana cifrada em notas para qualquer bom entendedor ler. Sempre admirei Warhol, por ter captado a partir de um recorte da realidade, a publicidade, uma sutileza colorida que revolucionou a concepção artística do mundo. Em meio a revolução da indústria cultural, onde as pessoas passavam a adquirir bens comuns para sentirem-se reais dentro de uma sociedade pautada pelo sonho americano, a beleza, o glamour, as drogas, o vício, a rebeldia, a criatividade e também a carência e miséria humana fizeram de uma das musas desta época Edie Sedgwick entrarem no túnel da autodestruição aniquilando-se e deixando para trás talvez, uma das escolhas que teria sido a melhor de sua existência, ter optado por si mesma. Andy usou do magnetismo e capacidade de expressão, da expansividade de Edie para potencializar seu movimento, a coroou como musa com uma chuva de pétalas de rosa assim como a fez despencar dos altos degraus da fama, para ser simplesmente, uma mortal em busca de uma dose química de salvação. Ela era carente, era rica, bonita e estrela, também poderia ter casado com Bob Dylan se realmente o quisesse, mais uma prova de que são os destinos bruscos que desgovernam o carro da vida, e não os acasos premeditados.

Entrei nesta narrativa do filme porque merece uma analogia, me fez refletir sobre as ações e atitudes que muitas vezes tomamos sem pensar cuidadosamente. A reflexão oscila, entre ser atraente e ao mesmo tempo repugnante, revela diferentes sensações, voltando para o céu, é como estar no paraíso e cair face a face com o chão. As extremidades são contextos extremamente excitantes, pois de qualquer forma, inspiram os mais intensos e profundos sentimentos, sejam eles bons ou ruins e isto me faz pensar que é impossível navegar nestes dias sem contagiar-se com a ingenuidade ou a incredulidade de um sonhador e sobreviver de sensações que tocam apenas a superficie de nossas carências ,que escondem-se por trás de nós como um iceberg no oceano gelado. O fato é que assombrosamente nossas escolhas tem um peso irreparável que nem o tempo, nem as nossas melhores intenções ou desejos vêm para reparar. Assim é bem possível sentir que o vazio que aumenta a insuficiencia dos dias seja na verdade um efeito de amortecimento de uma sede de intensidade quem nem mesmo um oásis em meio a um deserto de nuvens pode saciar.

Friday, January 01, 2010


É VERÃO há um calor latente lá fora, o ventilador gira rapidamente sobre minha cabeça. Uma segunda feira qualquer, poderia ser a última de minha vida, momento em questão onde também algumas pessoas devem estar nascendo. È fim de tarde, ouço os barulhos dos carros passando lá fora, o motor quente, fervendo sobre o asfalto, poeira, raios de sol ainda quentes dão as ultimas pinceladas de cor ao dia que ganha tonalidades laranja a medida que o sol se esconde no horizonte. Há um peso sobre os ombros do qual consigo me desvencilhar por alguns segundos, depois ele volta deixando o dia mais pesado do que o habitual. Alguns dias atrás pensei que estava em uma plena onda de felicidade, um sentimento de liberdade único que só pode ser provado nessas mesmas horas do entardecer sob a emoção intermitente do andar sobre duas rodas em alguma avenida da cidade e levantar as mãos para o céu vislumbrando no horizonte um rastro de estrela e nuvens brancas que mais parecem flocos de algodão e ganham formatos de objetos a medida que fixo o olhar nelas durante um espasmo em segundos de velocidade. Porém nos últimos dias cansada deste exercício de contemplação habitual, com um sentimento infundado de ânsia por padecer em um momento de êxtase infindável, me subordinei à força das minhas próprias paixões, na incoerência de elucidar esta inquietude voraz, e como uma lebre me infringi ao prazer momentâneo, povoado de luxuria em lençóis prata. Me senti como uma deusa da fertilidade, envolta por um cenário exótico, requintado, atraente e sedutor, deixei os instintos tomarem forma de ações e ecoar naquele quarto murmúrios por vezes silenciosos noutras estridentes. Um ar artificial e gelado consumindo o ambiente e a fumaça de cigarro se dissipando por entre meus lábios. Estou deitada em um divã de prazeres imediatos, me chamo tesão e vou até o último resquício de satisfação que a carne pode me proporcionar. Estou em transe, há uma certa inconsciência pairando sob o ar que enganosamente parece leve. Lá fora cai chuva sem parar, trovões, céu cinza, me sinto resguardada em uma redoma de desejos com luzes coloridas de uma tonalidade artificialmente glamorosa, excitante. Me despi completamente diluindo-me em uma personagem de mim mesma, de uma parte oculta que se esconde obscuramente no entre abrir dos sorrisos da minha existência. Quando me dei por conta estava consumida pela minha própria vontade. Meus sentimentos transformaram-se em dúvidas, o paraíso terreno tomou forma de prisão, cenário macabro onde as pessoas se cerram tentando buscar a saída em uma janela dentro de si mesmas, mas na tentativa vã de encontrar o lado de fora se perdem no confluente de suas mais misteriosas visões. Não parei para pensar necessariamente no que meus atos podem acarretar, pois a busca de satisfação parece não ter fim, cega, inquietamente extasiada procuro uma maneira de encontrar uma alma que traga um pouco de paz como um vampiro vaga pela noite a procura de sangue para provar da intensidade dos mortais. Abro um parênteses encontro alguns amigos, atendo o telefone, espero por alguém, encontro este alguém e entre uma pantomima a fim de demonstrar quem sou eu, descubro um ser divertido na plataforma de encontros reais. Voltando ao momento em questão, estou diante de uma colossal aventura por este abismo que se chama terra, onde pessoas vem e vão ritmicamente e muitas vezes servem de suporte para carregar as nossas mais abstratas ilusões. Não costumo me identificar com a lógica, principalmente porque não existe lógica quando se seguem apenasos impulsos nervosos que estão em constante explosão dentro de nós, porém hei de admitir que muitas vezes a culpa, a culpa misturada ao medo de não ter mais a liberdade que a existência pode conferir pelo soprar do vento ou pelo simples estar em todos os lugares a qualquer momento, a qualquer hora com qualquer pessoa, deveria se traduzir em pensamentos sensatos para então despejar na existência um alivio estarrecedor de coerência. Como num quebra cabeça, só consigo retratar a imagem que eu mesma estou a tentar desvendar, quando todas as peças estão encaixadas proporcionando uma boa resposta para meu ângulo de visão. Realmente a cada dia procuro entender o porque de tanta insatisfação. Há um vazio tremendo a ser preenchido, um vazio que ainda carrega lastros de uma arma de fogo, o amor. Aquele sentimento contundente que te tira o sono, te leva para as alturas e te derruba no chão sem que você perceba que está caindo. As pessoas procuram amor em tudo, só que elas discriminam este sentimento, elas se perdem em seus próprios jogos de parecer serem si mesmos e acabam por não encontrar realmente alguém que as faça feliz. Justamente porque é difícil tolerar os próprios defeitos. È muito mais fácil idealizar alguém perfeito no qual possa espelhar toda a ilusão que por anos a humanidade carrega sobre a perfeição. Algo que não se materializa nunca, porque invariavelmente há um quê de fábula, de sonho, de um mundo fantástico onde as histórias reais não conseguem um suporte para acontecerem. O amor está para ser descoberto, por mim, por você, pelo o velho, pela a viúva, pelo o desempregado, pela a prostituta, pelo pai de família, pelo trabalhador, pelos desonestos e quiçá pelos corruptos e intolerantes. Talvez algumas pessoas empunhem bandeiras nesta derradeira de início de século procurando resguardá-lo em um plano supremo rodeado por ideais. Talvez se perca no rio fluido que se tornou nossos dias, ou talvez simplesmente continue sendo a mentira na qual todos gostam de acreditar, um mero entretenimento para as vontades deixando a alma a mercê de manipulações.