Wednesday, February 17, 2010


Praia, sol, mar, corpos representando a beleza e as horas dispensadas dentro da academia o ano inteiro para enfim exibir nas areias formas apolíneas envoltas em micro tecidos. Tanto os homens quanto as mulheres gaúchas sabem apreciar a estétíca bela e buscam arduamente este apogeu. Não estou falando de forma crítica bem pelo contrário me considero parte deste time que admira belas formas, porém não dou minha vida por elas... Aliás tenho percebido que quanto mais as pessoas se esmeram para chegar a um padrão ideal mais longe ficam de si mesmas. Como em um laboratório experimental estamos nos testando a todo o momento, queremos ser melhores constantemente, queremos possuir aquilo que há de melhor e viver intensamente a sensação do bem estar que as coisas de um modo geral nos proporcionam, sejam elas materiais, espirituais ou afetivas...
O fato é que as férias põe em prova algumas verdades que coletamos ao longo do ano e fazem elas respingarem no espelho do vento litonâneo uma reflexão propícia a este momento.
No Brasil, o ano começa de verdade depois que se encerram as atividades em torno do carnaval. Aí as pessoas correm pra as lojas comprar materiais escolares e matricular os filhos, começam a pensar em um plano de carreira e batalhar por uma posição melhor dentro da empresa, em trocar de carro ou fazer uma viagem no próximo final de ano e assim por diante. Percebo que nossa vida gira em torno de uma rotina sistemática estabelecida por metas. A meta de perder alguns quilinhos para encarar o verão seguinte, a meta de alcançar uma promoção e receber um salário maior, a meta de ser a cada dia melhor do que o outro ou melhor do que aparenta ou se consegue ser. A verdade é que esta realidade não é uma coisa a qual nós paramos e determinamos que deva ser assim, é algo que definitivamente não é pensado por nós e sim pelo fluxo em que vivemos. Não quero culpar o padrão americano e o modo como a econômia e o mercado funcionam lá, porém é inevitável perceber como nossa vida aqui se inspira nos padrões propostos acolá. Desde o nosso programa predileto, às camisetas que usamos e aos carros que sonhamos dirigir, tudo vêm com o número de série da fábrica gravado em letras garrafais mesmo que por muitas vezes nossa miopia social não consiga enxergar. Aquela velha história que começou com a explosão da indústria cultural e os modelos apresentados no cinema, que perpassou a cultura pop e a reinvenção da arte, dos meios de comunicação em geral e que agora se mescla na onda gigante que mistura todas as correntes marítimas mundiais, chamada internet.
Não estamos mais vivendo os reflexos da indústria cultural nem sob seus esteriótipos, mas nos faltam argumentos críticos para entendermos qual é a nossa verdadeira identidade na era pós-moderna.
Somos fluídos e nossas relações rápidas como o clicar do mouse, somos homo, hetero, bi- sexuais, somos workaholic, aficionados por tecnologia, somos super, megalomâniacos, somos loucos e ao mesmo tempo somos mais do que normais, esses normais que vivem dentro da normalidade cotidiana, da rotina instalada dentro do calendário abrigado pelo iphone, pelo trajeto proposto pelo GPS, pela cirurgia plástica e pela compulsão indiscriminada por qualquer coisa...
Passar alguns dias perto do mar me trouxe uma ânsia interessante de fazer as coisas acontecerem de uma forma diferente. Assim como as ondas quebram ritimadas eM um dia paradisíaco e ensolarado e logo depois quando a chuva cai, tornam-se agressivas e rebeldes, rebentam aleatóriamente causando uma verdadeira anarquia à beira mar, sinto o pensamento movimentando-se em diversas direções.
Nossa órbita diária condicionada pelo tempo muitas vezes não nos faz questionar ou simplesmente prender os olhos à nossa volta e é justamente por isso que o dia de hoje é uma premissa para começar algo relativamente novo, seja pôr a mão na massa ou entrar com o pé direito em um novo território abrigado apenas pela nossa vontade de fazer as coisas que mais gostamos tornarem-se ainda melhores independente do tempo, da convenção, do corpo, da medida ou do padrão...

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