Thursday, April 15, 2010


A hora do Adeus!

PARTE I
O relato de uma história de amor, apaixonante.

Depois de quatro anos, perambular pelos corredores da faculdade já não é mais a mesma coisa. Se for mesmo pra contabilizar os anos, acredito que já se passaram uns cinco. Lembro nitidamente do primeiro dia em que pus o pé direito no prédio da Faculdade de Artes e Comunicação, a tão conhecida FAC.

Era um fim de tarde de outono, principio de inverno, muitas pessoas se aglomeravam em frente ao prédio, um burburinho intenso e as escadas que levam a porta de entrada pareciam intermináveis. Entrei com as canelas tremendo. Tratava-se de uma prova de fogo, o primeiro dia na universidade. Mal sabia eu, que estava entrando em um universo da qual hoje é impossível me dissociar.

A comunicação sempre fora o meu forte. Lembro de ouvir minha mãe falar sobre as minhas incontáveis peripécias quando eu era criança. Nos encontrávamos na praia e eu subitamente sumia de seu campo de visão para ser flagrada minutos depois conversando na barraca do vizinho e muitas vezes mordiscando algum petisco que me ofereciam. Impossível também esquecer do escambo que meu falecido avô me propunha todas as sextas feiras para me incentivar a escrever. Quando chegava o meio dia, era certo que alguma surpresa eu iria encontrar na caixa do correio. Morávamos há algumas quadras de distância mas mesmo assim, a correspondência se fazia valer. Nos correspondíamos através de cartas e a cada uma que eu respondesse ganhava R$ 10,00.
Com o passar do tempo, passei a escrever mais de uma carta por semana, pois obviamente queria obter mais do que o montante proposto. Às vezes, antes mesmo do fim de semana se pronunciar eu já havia escrito e entre a carta em mãos à rua 21 de abril, onde era a casa dos meus avós. Talvez essa iniciativa tenha fortalecido meus laços com a escrita, que inconscientemente se refletiu na minha inscrição para o vestibular em jornalismo. No colégio, trocar cartas continuava sendo um dos passa tempos prediletos.
Do oitavo ao terceiro ano, juntamente com uma amiga, fazíamos uma memória diária de novidades e segredos, era algo muito valioso imerso em um certo fetichismo, porque aquelas cartas falavam da alma, sobre nossos sentimentos, nossos sonhos, medos e ilusões, era algo maravilhoso. Ao fim da escola percebi que aquela montoeira de papéis precisava ser eliminada pois além das muitas histórias elas agora abrigavam ácaros.
Então, um dia, uma tarde mais precisamente, lancei ao fogo todas aquelas memórias e o simbolismo que antes se traduzia em algo supremo através das letras que se desenhavam no papel, se esvaiu nas chamas para todo o sempre. Algumas coisas ainda tenho vivas na memória, não consegui apagar o mundo dos papéis como parte da minha existência mesmo que muitos deles tenham sido queimados até porque ao ingressar na faculdade de jornalismo, ainda com toda a tecnologia disponível, a melhor forma de expressar as idéias é um pedaço de folha qualquer e uma caneta.
Com o tempo, aquele primeiro dia de aula se tornou algo emblemático para explicar como nossa comunicação evolui. A universidade fez com que o meu mundo que até então eu considerava algo imenso e super valorizado se ampliasse de uma maneira que nenhum compasso pode tanger. Aprendi a questionar o mundo, a descobrir através das aulas teóricas, para muitos enfadonhas, o quão intrigante é constatar que meus pensamentos encontram um porto seguro comum com pessoas que distante de mim pensaram, sentiram e viveram o mundo sob a mesma ótica.
Hoje independente dos trabalhos de aula, dos livros propostos pelas disciplinas, da literatura, das notícias da televisão ou das redes sociais minha vontade de viver a comunicação ultrapassa qualquer fronteira. Parece-me que a comunicação social se fundiu a minha personalidade, lapidou o meu eu e fez com que me tornasse alguém melhor, uma profissional. Este papo aos olhos de uns pode parecer careta, mas tenho absoluta certeza que podem me chamar de tudo menos disso.
Escrevo em primeira pessoa, porque sei que muita gente sente assim. Expressar os sentimentos ao mundo não é tarefa difícil, saber contempla-los requer sensibilidade e ser nós mesmos, isso sim, é algo difícil que talvez caminhe junto do aprendizado pois afinal, somos tantos!. Agora, em pleno trabalho de conclusão, discorri a respeito da obtenção do conhecimento, novamente e inconscientemente ligando a tudo que me fez crescer e amadurecer durante estes anos na FAC. Houve algum tempo em que as risadas nos corredores foram preenchidas por momentos de indignação.
Colamos cartazes nas paredes, e com um certo espírito revolucionário auto afirmando nosso poderio jovem frenético, contestador, louco e faquiano way of life conseguimos alcançar nosso objetivo. A comunicação é isso, é deixar transcender aquilo que nós temos vontade de transpor para o mundo real, e que muitas vezes fica guardado dentro de nós. Não dá pra deixar a inspiração ir embora, ela se esvai com o tempo e demora a bater à porta novamente se não soubermos deixá-la destrancada. Começo a achar que vivo porque me comunico, vivo porque inspiro palavras, sons e gestos e os respiro novamente.

1 comment:

Douglas Duart said...

TT adorei a crônica !!! Concerteza tds q estudam na FAC e lêrem isso, saberão concerteza do que vc está falando.... bjo !