Tuesday, July 27, 2010


Não interessa se as pessoas morrem a cada instante, se há crianças passando fome, se guerras silenciosas se travam entre as nações, se o mundo está a caminho do fim. A razão e a consciência se ausentaram por alguns dias e tudo que se pode sentir é uma quantidade imensa de nervos brigando entre si dentro do corpo. Extremidades que se chocam lentamente provocando pequenas explosões, percorrem toda a anatomia, a traquéia é sufocada por uma sensação de pavor. É inverno mas não faz frio, queimando está o corpo em frente a lareira acesa. A lenha se ajeita meticulosamente dentro da caixa quadrada, faiscas dançam envolvidas por uma brasa quente. Aquela cor alaranjada se projeta nos olhos cansados, foi um longo dia. Uma caixa encontra-se fechada, a um palmo de alcançá-la, as mãos correm em direção a sua superfície, levantando a tampa lentamente o fundo dá lugar a um buraco profundo e sem fim...

Saudade. Depois de procurado o sinônimo não apareceu, permaneceu ausente como o sentido que pertence, insistiu em dar as caras. Mas alguém ainda tentou denominar e para a surpresa eis então:

Do lat. solidate,soledade, solidão. atr. do arc. soydade, suydade com influência de saúde. sf.(a) 1. Lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo, suave, de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhado do desejo de tornar a vê-las ou possuí-las; nostalgia.2. Pesar da ausência de alguém que nos é querido. 3. Desiguinação comum a diversa plantas da família das dipsacáceas, principalmente da espécie Scabiosa marítima, e ás suas flores; escabiosa. 4. Planta da família das asclepiadáceas (Asclépias umbellata). 5. Bras. assobiador. 6. Bras.Cantiga da terra, entoada pelos marujos no alto mar.7. No Brasil, transforma-se o hiato desta palavra em ditongo: "sau-dade".

Quem está feliz não sente saudade. Quem é satisfeito não procura no armário trancado um objeto perdido. E se este disse que o achou, está mentindo porque quem sente saudade dificilmente a mata de uma vez só. A saudade é um serial killer. Ela vai consumindo suas vítimas aos poucos, ela se aproxima como quem não quer nada durante a noite ou ate mesmo sob a luz do dia, e instantaneamente consome-a. Quem sente saudade é saudoso de sentimentos, saudoso de sentido, de razão de ser ou de simplesmente estar. Quem lê sente saudade, quem não sabe contar também. As vezes sinto saudade de mim, de ser quem eu não fui, de estar onde não estive, de falar o que não disse ou desdizer o que deixei escapar. Mover-se com o mundo é uma constante impiedosa, é por isso que a saudade é vista como o pólo negativo do amor. Pessoas andam apressadas, não sei se estão gélidas, se não tem mais de onde tirar suas emoções, que já consumidas jazem em um terreno distante. Ou mesmo com tantos objetos de desejo, torna-se quase que impossível sentir saudade.

Veja bem, sinto saudade do mar. Do vento. Da terra. Eles continuam existindo um tanto próximos, a saudade é uma situação que gostaríamos de reviver para comprovar que podemos dominar o tempo. Utopia.

Eu não entendo porque preferi este lado da vida, o lado que deixa os pés longe do chão, é muito difícil constatar que daqui nada sei, é como se a atmosfera que me envolve não me pertencesse verdadeiramente. Procuro esconderijos para guardar meus pensamentos, ou simplesmente não os concebo. Não vejo televisão, escuto rádio para tocar a música, navego na internet para conversar, e o resto o que vai e o que fica, no fim das contas, é o que eu não sinto saudade, é a rotina, que acaba sendo sempre o tudo da mesma coisa.


As vezes parece tão simples fazer parte de tudo isso, e as ferramentas são tantas para o fazer. Mas de repente, é como se a cortina caísse sobre os ombros, e tudo se torna-se transparente. O lado de dentro é tão imenso e desconhecido, um tanto amedrontador.

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