Wednesday, April 15, 2009



O instante presente




A caminho da faculdade, o movimento da rua sob a perspectiva de dentro do ônibus é imprevisível. Mesmo que se faça o habitual trajeto todos os dias os personagens que o norteiam nunca são os mesmos. As faces, as roupas, as pernas caminhando em ritmo apressado, as crianças no colo das mães e as pessoas trabalhando formam um círculo interminável de histórias que poderiam preencher milhares de livros. Porém, estas pessoas são diferentes, sob o ponto de vista de um observador que enxerga a estética física e ousa decifrar o que elas costumam fazer, sentir viver..


.Creio que hoje seja um daqueles dias que você sente demais, come demais, e tem vontade de dormir... Que os instintos afloram como se não tivéssemos hora marcada no dentista ou o ponto pra bater e pudéssemos protelar para qualquer momento daqui a pouco tudo que temos que fazer neste exato instante, só pelo prazer de sentir-se livre e de alimentar a nossa indolência com saborosas pitadas de bem estar. Para sentir e fazer o que quiser.


Estas pessoas que vejo enquadradas fora da janela do ônibus, que aparentemente correm atrás de algo que chama-se tempo, estão na verdade sobrevivendo.

O mundo se transforma a cada minuto, segundos são suficientes para serem responsáveis por alterar trajetos, construir pontes invisíveis e mudar destinos. Existe uma fórmula pré concebida de que tudo que falamos e pensamos, e a maneira como agimos reflete naquilo que somos. Se esta fórmula está certa não faço a mínima idéia, porém, costumo perceber que a medida que observo este ir e vir deste mar de gente nas ruas, a medida que os instantes se passam, e o ar entra nas narinas só pra estar ali te dizendo que a vida é agora e que é preciso viver novamente com toda a energia possível, porque se você um dia para pra sonhar com o futuro é capaz do segundo deixar ele simplesmente passar.


Hoje pela manhã na parada de ônibus conversando com uma colega, ouvimos um barulho estrondoso de avião a jato vindo do céu, é estranho como aquilo hipnotiza, algo misterioso, com certeza, inspira aquele momento para imaginarmos o que quisermos e logo em instantes, o ônibus passa arrecadando passageiros. O jato se foi e o instante daquele fragmento do dia passa depressa, mas com certeza é suficientemente vivo para ser lembrado. Então o dia corre como habitual, muitos pensamentos e uma angustia instalada há dias comendo no peito. Correndo solta nas veias, mas é normal, é puro e simplesmente normal, sentir assim, deste jeito, uma hora parece que o mundo vai acabar, na outra já não, e assim os dias podem tornarem-se milhares de pontinhos, uma obra de arte que vale a pena colecionar!


Aquela beleza de paisagem em movimento que se transfigura nas curvas que o ônibus faz, aquela música, aquele sol luminoso fundindo o azul do céu e esquentando a tarde logo vão dar lugar aquele vento frio de inverno, aquela sensação de nariz escorrendo e mãos gélidas, aquela neblina das primeiras horas da manhã, e isto que recordamos aqui nestas breves linhas, se congela pra ser aberto e lido a qualquer hora seja neste inverno ou no próximo verão. Mas é preciso, sempre, viver, correr, andar angustiado, amar, enlouquecer, sorrir e ouvir aquela música no banco do ônibus pra descobrir nem que seja por alguns instantes que a música não para de tocar nos ouvidos enquanto o mundo estiver girando e as coisas acontecendo aqui, bem na nossa frente!!!