As paisagens que sugerem os filmes são a arte que o cineasta revela em um recorte fantástico da realidade, assim como o jornalista, que faz malabarismos com as palavras e reinventa formas de expressar e dizer, quase a mesma coisa de diferentes formas.
O sol se escondendo no horizonte gelado, as casas encobrindo a monhava verde longinqua e aparentemente calma, os carros movendo-se em circulos no centro minusculo desta cidade de interior, e o que dizer das pessoas, esses fragmentos multicoloridos que vão e vem pelas ruas e esgueiram-se umas das outras em uma caminha frenética para todos os lugares possíveis e imaginários.
Barulhos mil fundem-se ao canto do pássaros e o lamúrio da natureza, há um quê de funesto nesta escuridão insípida que é o asfalto, mas ao contrapô-lo com as arvores, as pequenas flores que surgem em meio a vegetação urbana e os canteiros cuja ornamentação fora esquecida com a chegada do inverno, compõe um cenário otimista de um belo final de tarde neste domingo, gelado.
As temperaturas cada vez mais baixas apetecem os mais variados sabores ao paladar, o doce torna-se ainda mais doce, o salgado se faz o alimento mais calórico que se possa obter, até mesmo os liquidos tem outro sabor, muitas vezes estão ou muito gelados, ou por demais aquecidos, acho que esta é a estação da extremidade. Estamos dentro de nossas casas aquecidos por mantos de conforto e luzes não param de acender-se, misturam-se as chamas das lareiras a tilintar gravetos de madeira dentro de si e como um vulcão sucumbir o frio dos ambientes e esquentá-los enrubescendo nossas buchechas... ao tempo que lá fora, a temperatura é tão baixa que até mesmo os bichos relutam em aparecer, onde estão as ratazanas do submundo sujo e imundo das grandes cidades?
Faltam 60 dias para o fim desta estação, o espírito do inverno se esvai ao tempo que o sol reina no céu desfazendo a geada que encobre o campo nas primeiras horas da manhã.
Há ansiedade, precipitação compasso de euforia, melodia intrépida, superfície frágil e rocha porosa e um penhasco ruidoso que durante a noite ecoa murmúrios de vozes que se confundem com outros barulhos, o trem passa busina e segue pelos trilhos levando consigo mantimentos para algum lugar não tão longe daqui...
A casa treme sempre que o trem passa, pressinto que ele passa depressa pois é quase que inperceptível sua aparição...
A lua invisível no céu azul aos poucos se cristaliza na noite escura, é uma virgula em meio ao infinito de interrogações que simboliza o grande céu, o manto de pontos luminosos que paira sobre nós como uma colcha de retalhos retirada do fundo do baú, propricia e muito adequada para esta estação..
Brindo ao acaso, aos amigos, ao belo dia que se consagrará em amanhã... as folhas caídas nas ruas que varrem lentamente a poeira do chão, as crianças que sorriem e são cores ainda mais intensas no trânsito da vida e a família que faz com que eu me sinta sempre dentro de um berço ouvindo canções de ninar...