Tuesday, June 21, 2011


A cachaça Pós Moderna

Faz tempo que não escrevo, que não crio que não invento.
Às vezes eu acho que passou uma eternidade desde a última vez, mas meu imediatismo costumeiro sugere que só desta vez, eu esteja dramatizando um pouquinho.
Falando sobre coisas desimportantes ou essenciais, depende do ponto de vista, em uma plataforma qualquer, nestas tardes que as gotas da chuva insistem em cair freneticamente e molhar tudo em volta, eu resisti mas resolvi tentar fazer as pazes com o teclado, e escrever um amontoado de palavras que há tempos eu não escrevia. Ora por falta de necessidade, ora por preguiça, ora por falta de inspiração. De qualquer forma, seja lá por qual motivo algo despertou infinitamente a minha vontade de teorizar. E desta vez, ou mais uma vez, é sobre a pós-modernidade, pra quem me conhece não é muita novidade, mas ok. Prosseguindo, estava eu em um desses momentos de ócio não-criativo conversando com uma colega, não posso revelar seu nome, mas me liberaram as iniciais: J.A. 23 anos, estado civil: namorando, mas ainda no papel solteira, paga suas contas, é independente até certo ponto pois não lava suas roupas e não cozinha, isso sugere que ainda mora com os pais e é melhor eu parar de dar detalhes caso contrário vão descobrir quem é a colega na narrativa em questão. Pois bem, estávamos conversando sobre a mediocridade que tem sido estes dias cinzas, frios e chuvosos, entre um café e um suspiro, o que também não deixa de ser algo extremamente clichê porque se tivessem anais para nossas frases diárias, eles iam estar floridos de palavras que combinam por associação: café, frio, chuva, ócio, trabalho, internet, porque tudo isso coexiste, mas enfim. Nesta altura do campeonato vocês me perguntam aonde anda a cachaça Pós Moderna, ok eu já estava chegando lá. A cachaça Pós-Moderna está a um milímetro de um click, é um sentimento de adição despertado no limiar do toque entre os dedos e o botão do mouse que vai tomando conta do indivíduo dominando suas vontades e dirigindo-o para janelas costumeiras. E essa aproximação se repete diariamente. O indivíduo para em frente ao desktop, aciona o botão antigamente conhecido como “power” na maioria dos aparatos eletrônicos, que não quer dizer poder e sim “ligar” hahaha, ele liga este botão e sua vida se transforma. Primeiro porque sabe que mil prazos estão voando ao seu encontro, que amigos desocupados como ele ou nem tanto, mas que sempre acham uma brechinha para postar uma besteira qualquer nas redes sociais, estão ansiosos para que ele deixe um comentário em seu mural ou página pessoal, como queiram, pra não dizer que sou partidária do facebook. Aí, todos estes indivíduos que teoricamente transitam nas ruas dizendo que estão atrasados, que não tem tempo nem de escovar os dentes, se encontram nesta órbita fluída que aparentemente é um ponto de fuga da realidade, e ficam ali, falando sobre suas cotidianices, divagando sobre o indivagável, e venerando a quantidade de comentários que surge absurdamente e compulsivamente a medida que o F5 atualiza o navegador indicados por uma tarjinha vermelha. Esta é a cachaça Pós Moderna minha gente, você não precisa ir até o boteco ao lado para fugir dos seus problemas, o mundo inteiro conspira para que você faça isso simultaneamente, enquanto trabalha e desenvolve suas atividades corriqueiras na plataforma de metal montada bem a sua frente. E nesse quesito eu insisto em falar, que em uma era como esta, é impossível falar em organização. Como um ser humano tão errante, tão transgressor, tão desconectado e ao mesmo tempo tão conectado, pode conceber a organização como princípio fundamental de sua produtividade? Inconcebível. Ainda bem que meus olhos contemplam a triste realidade bem abertos. E como toda a cachaça, o indivíduo beberica, absorve, se embriaga e perde-se em um torpor infindo para depois voltar-se para si e perceber que tudo continua a mesma coisa. A fuga foi totalmente inválida, mas por algum momento ela realmente pareceu ser a melhor saída. Este deveria ser o Slogan desta Era, desta sociedade e de nossas vidas. Duas faíscas surgiram em minha mente ao refletir neste instante: primeiro, os conceitos apresentados pelo sociólogo Zygmunt Bauman http://blogdogutemberg.blogspot.com/2008/10/vivemos-numa-sociedade-lquida.html em sua Modernidade Líquida, acerca da Pós-Modernidade e que muito contemplam o estudo desta sociedade, ainda na faculdade, quando falávamos da identidade dos indivíduos na era em que vivemos, e tentávamos compreender, acima de tudo, quem somos, pois afinal, ninguém se dissocia do fenômeno estando plenamente integrado ao sistema. E segundo, na a maneira como percebo estes tantos indivíduos, amigos, não amigos, parentes, conhecidos que transitam em um mundo virtual que se trata de um espelho que reflete prazeres e satisfações momentâneas, na liquidez que faz dessas identidades por sua vez,  um espelho d´agua, ou de cachaça, onde eles instantaneamente modificam-se, assumem diferentes faces, tornando-se outros a medida que a necessidade convém. Que coisa mais louca, mas está e a nossa vida minha gentchy! E vamos nessa que agora só falta eu fazer o unpload e compartilhar o texto no facebook.