Thursday, June 30, 2011



Não lembro se foi na infância, ou se já estava na adolescência, deve ter sido um pouco dos dois, mas a Cecília Meirelles realmente marcou determinada fase na minha vida. Seus poemas simples, e ao mesmo tempo tão sábios, tão femininos, tão nossos, me aqueceram a mente nesta manhã fria e cinza.  Eu tenho fases como a lua, fazer de ser sozinha, fazer de ser sua. Devo ser uma Lua Adversa como  bem descreveu a autora, eu e mais umas tantas. No mesmo instante em que eu colei este poema aqui no blog, pude ler o relato de outra pessoa falando sobre a primeira vez que viu este poema, devia ter uns 13 anos...

 

Lua Adversa

Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia, o outro desapareceu...

Cecília Meireles
Ainda bem que eu mantenho dois lugares pra postar minhas cotidianices. Desta vez eu resolvi parafrasear:

Duas vezes e mais um pouco de mim.

Ás vezes a superficialidade
tenta me arrebatar por inteiro
Ando por aí como quem não quer nada
Vivo a vida sem rodeio
Ás vezes uma profundidade fria me consome
E mesmo que a temperatura congele meu exterior
O coração se mantém aquecido
Vibrando num ritmo encantador
Eu piro em mim mesmo
Na minha adversidade e no meu paradoxo
Se disser que nunca me contradisse
Estarei desdizendo o indizível.
E eu sei muito bem brincar com as palavras.
Assim como desaprendo quando um vento
Me vira para o norte
Me fazendo pensar
Que nunca estive no sul.
Na verdade às vezes eu tenho vontade de fugir
Mas tudo que é oposto ao que vivo
Parece intensamente mais intrigante
E em outros momentos
Eu só quero ficar
Preciso que me dêem
Um colo pra deitar.
Eu vou e volto nesta intensa sintonia
E eu ainda acho que é melhor
Estar em movimento.
Porque ao contrário do tempo
Meus ponteiros não giram e voltam para o mesmo lugar.

Tuesday, June 28, 2011

"Esta noite sonhei com minha mala. Eu estava em uma estrada e de repente a levaram. Um pivete que vestia um casaco vermelho com capuz, a levou para dentro de uma grande escola, tive que correr por salas e escadas compridas atrás dela. Em meio a essa correria me deparei com um curto circuito, algo se prendeu em torno do meu pescoço dando um choque em mim e em um homem que tentava me ajudar, ele infelizmente morreu, eu fiz mta força para aquilo nao tirar todas as minhas energias, e consegui me libertar do fio. Meus dentes estavam escuros, sai correndo em busca da minha mala,  e a avistei parada, em frente ao que parecia uma lancheria, continuei por entre as escadas e labirintos daquela imensa construção, até que enfim, cheguei ao lugar que havia a avistado. Era uma ilusão de ótica, na realidade não era minha mala que lá estava e sim um carrinho de metal com umas borrachas amarelas em volta. Foi desolador. Corri novamente, não sei como encontrei minhas coisas atiradas no chão em um monte, a mala acho que havia sumido, meu óculos de sol estava todo torto e o recuperei, nao sei como tão rapidamente perdi o interesse por todas as minhas coisas, enfim  acordei."

Com o tempo tudo se aprende, se assim mesmo for a vontade que se tem na vida.

Uma vez escrevi sobre quanto vale o amor de um homem., acho que continuo sem saber a resposta para essa pergunta. Primeiro porque um relacionamento não diz respeito a equações. Segundo porque é difícil ter um padrão de medida matemático quando se tratam de sentimentos.
Vivemos e cremos em um mundo que gostaríamos que fosse perfeito, e da mesma forma projetamos isso nas pessoas que nele vivem e que conosco convivem. Mas elas não o são.  Nada é perfeito e incrivelmente no que diz respeito aos relacionamentos, algumas histórias se repetem. Porque quando você idealiza uma realidade, inevitavelmente você cai nas armadilhas do cotidiano, do comum, do normal, afinal não somos super heróis e nosso dia-a-dia está longe de ser fantástico. Você sente, vê e pensa o mundo de uma forma, mas isso não quer dizer que o resto do universo fará o mesmo. Você cria suas fantasias, vaga pelos labirintos estreitos dos seus sonhos e às vezes desconhece o inteiro que está bem ao seu lado. Por que? Tenho duas teorias:

-Primeiro,  é infinitamente mais fácil ver tudo do modo ao qual estamos acostumados a ver e não se por no lugar do outro.

-Segundo, por vezes a realidade parece tão assustadora, então torna-se muito mais cômodo acreditar em qualquer outra coisa do que no que os próprios olhos vêem (não deixa de ser comodismo também). E é por isso que ninguém que ficou sentado em uma poltrona sem se mover,  fez alguma diferença no mundo até hoje. Seria muito fácil compreender tudo se pudéssemos optar por ligar um botão e dizer, isto é real, isto não é. Mas pelo contrário, a realidade é do tamanho da nossa consciência, e muitos a desconhecem.

Mas não se trata só disso, tudo à nossa volta é uma grande extensão elétrica que fornece energia para uma cidade. Felizmente eu tenho ciência de que faço parte desta  cadeia. E sabe o que acontece quando falta luz em uma casa?  Aparentemente nada se modifica, pois afinal são tantas casas, só uma luz apagada não parece fazer muita diferença, mas o faz. Se você subir no lugar mais alto desta cidade à noite, e tiver a percepção atenta para observar, para ver o todo, logo se dará conta que algum lugar está escuro, lá uma luz deixou de brilhar. E é exatamente assim que eu me sinto algumas vezes. É algo extremamente involuntário que sempre me sinaliza que algo não vai bem. Como aquelas pessoas que enxergam luzinhas quando estão mal de algum órgão interno ou comeram um tempero muito forte. Esta na verdade, não é uma sensação ruim, e sim esclarecedora. Dependendo do ponto de vista ela pode ser brutalmente invasiva, está aí mais uma prova de que tudo depende do ponto de vista! Se você faz parte deste grande todo, e sente que em algum lugar algo está errado, é impossível negar. "É tão certo quanto o calor do fogo", já dizia a música. E a vida inteira eu posso dizer que sinto essas coisas, e outras mais. Nestas outras mais incluo outro questionamento sobre a vida: Quanto vale o preço de uma liberdade? Existe fiança que pague?

É partindo destas duas perguntas básicas que pautaram minha reflexão, que é possível tentar descobrir o real valor de um relacionamento. Ser livre, dono de si mesmo e de suas ações, transitar pelo mundo como alguém inteiramente único, só, um indivíduo que carrega o peso de sua cruz sem dividi-la com ninguém e que apresenta uma face brilhante capaz de ofuscar a luz mais intensa, e outra proporcionalmente escura, abissal.
Ao mesmo tempo ter alguém com quem dividir tudo é tão mágico e especial, tão inspirador, se genuíno, tão importante quanto um dia de sol, mas algo que invariavelmente requer habilidades inumanas.

Um dos grandes motivos dos relacionamentos modernos não darem certo é a invenção da oferta. Preço tudo parece ter, e ao mesmo tempo tudo está em liquidação, mulheres bonitas principalmente, e já aviso de antemão, que eu não estou. Você pode ter o melhor produto em casa mas a liquidação sempre será irresistível, e isto serve mesmo para aqueles mais convictos de seus propósitos. Afinal, o ser humano tem olhos para a novidade como alguns animais o tem para a caça.

Quanto as mulheres em geral, acho uma pena que saibam que a única coisa que as faz produtos em oferta extremamente desejáveis é a embalagem. Como se todo dia fosse Páscoa, temos milhares de ovinhos em promoção, mas todos muitas vezes decorados para exprimirem exatamente o sentido oposto que a data pressupõe. E é incrível porque ainda nos dias de hoje, as pessoas caem na conversa do coelinho da Páscoa, mesmo aquelas que mais amamos.

No dia-a-dia é tão difícil perceber essas sutilezas? Ou eu que idealizo um ser humano que ainda não inventaram?  Não julgo as belas e narcisas mulheres, pois às vezes eu também sou uma delas, questiono as pequenas almas, aquelas que não podem ser nada além do que aparentam.

Por ventura descobri que algumas das minhas perguntas jamais terão resposta racional, matemática ou concreta. Mas é reconfortante saber que estou ciente da diferença entre aquilo que meus olhos enxergam e do que eles gostariam de ver, dos meus atos, da minha vida, dos meus princípios e das minhas ações, que ainda juntamente com todos os defeitos que pretendo amenizar progressivamente, me fazem ser a cada dia mais bela. Uma bela criatura, dependendo do ponto de vista. Assim até me conformo com a idéia de me tornar velha, pois a idade é ao mesmo tempo um laboratório de vida apaixonante!

Thursday, June 23, 2011

Existe um tempo em que os olhos ficam estáticos. parados, vislumbranDo uma folha em branco de papel. Como se tudo ao redor estivesse pintado com uma tinta opaca e a visão turva como os olhos míopes. De fato eles o são, às vezes escondem coisas que não queremos ver, tornando umas pequenas e outras grandes demais. Me pergunto se a visão é apenas um estímulo nervoso ou algo extremamente ligado ao que nós somos, a nossa alma, se é que ela está guardadinha em algum lugar. Quando vejo algumas coisas, não digo olhar sem perceber, enxergar e atribuir sentido, sentir com os olhos, às vezes me assombro. Pela vida ser tão perfeitamente encaixada e estarmos mesmo assim buscando uma peça que está faltando. Isso se chama instatisfação. E esse sentimento surge para os que estão de olhos bem abertos, e também para o que estão com eles cerrados. A instatistação é algo natural do ser humano, isso me faz pensar que não fomos criados para estar aqui. Para vivermos como vivemos, e esperar desta vida o que esperamos. As vezes tenho a impressão de que tudo não passa de meros objetos que criamos para nos distrair, enquanto o tempo, que parece muito rápido passa devagar. Eu sinto tudo escuro mesmo que as luzes estejam ligadas para mim, os raios do sol fugiram mas os postes estão de pé. Imagino cenas cotidianas, lugares nos quais nunca estive, mas que ao mesmo tempo me parecem tão familiares. São portas que fazem vizinhança com a minha, as vezes bato nelas, as vezes forço para entrar, mas mesmo assim, elas permanecem fechadas. Às vezes eu acho que só eu me sinto assim, é uma decisão egoísta., mas eu realmente estou sozinha nessa, afinal, quando você está do lado de fora da porta você não sabe o que há por trás dela.

Tuesday, June 21, 2011


A cachaça Pós Moderna

Faz tempo que não escrevo, que não crio que não invento.
Às vezes eu acho que passou uma eternidade desde a última vez, mas meu imediatismo costumeiro sugere que só desta vez, eu esteja dramatizando um pouquinho.
Falando sobre coisas desimportantes ou essenciais, depende do ponto de vista, em uma plataforma qualquer, nestas tardes que as gotas da chuva insistem em cair freneticamente e molhar tudo em volta, eu resisti mas resolvi tentar fazer as pazes com o teclado, e escrever um amontoado de palavras que há tempos eu não escrevia. Ora por falta de necessidade, ora por preguiça, ora por falta de inspiração. De qualquer forma, seja lá por qual motivo algo despertou infinitamente a minha vontade de teorizar. E desta vez, ou mais uma vez, é sobre a pós-modernidade, pra quem me conhece não é muita novidade, mas ok. Prosseguindo, estava eu em um desses momentos de ócio não-criativo conversando com uma colega, não posso revelar seu nome, mas me liberaram as iniciais: J.A. 23 anos, estado civil: namorando, mas ainda no papel solteira, paga suas contas, é independente até certo ponto pois não lava suas roupas e não cozinha, isso sugere que ainda mora com os pais e é melhor eu parar de dar detalhes caso contrário vão descobrir quem é a colega na narrativa em questão. Pois bem, estávamos conversando sobre a mediocridade que tem sido estes dias cinzas, frios e chuvosos, entre um café e um suspiro, o que também não deixa de ser algo extremamente clichê porque se tivessem anais para nossas frases diárias, eles iam estar floridos de palavras que combinam por associação: café, frio, chuva, ócio, trabalho, internet, porque tudo isso coexiste, mas enfim. Nesta altura do campeonato vocês me perguntam aonde anda a cachaça Pós Moderna, ok eu já estava chegando lá. A cachaça Pós-Moderna está a um milímetro de um click, é um sentimento de adição despertado no limiar do toque entre os dedos e o botão do mouse que vai tomando conta do indivíduo dominando suas vontades e dirigindo-o para janelas costumeiras. E essa aproximação se repete diariamente. O indivíduo para em frente ao desktop, aciona o botão antigamente conhecido como “power” na maioria dos aparatos eletrônicos, que não quer dizer poder e sim “ligar” hahaha, ele liga este botão e sua vida se transforma. Primeiro porque sabe que mil prazos estão voando ao seu encontro, que amigos desocupados como ele ou nem tanto, mas que sempre acham uma brechinha para postar uma besteira qualquer nas redes sociais, estão ansiosos para que ele deixe um comentário em seu mural ou página pessoal, como queiram, pra não dizer que sou partidária do facebook. Aí, todos estes indivíduos que teoricamente transitam nas ruas dizendo que estão atrasados, que não tem tempo nem de escovar os dentes, se encontram nesta órbita fluída que aparentemente é um ponto de fuga da realidade, e ficam ali, falando sobre suas cotidianices, divagando sobre o indivagável, e venerando a quantidade de comentários que surge absurdamente e compulsivamente a medida que o F5 atualiza o navegador indicados por uma tarjinha vermelha. Esta é a cachaça Pós Moderna minha gente, você não precisa ir até o boteco ao lado para fugir dos seus problemas, o mundo inteiro conspira para que você faça isso simultaneamente, enquanto trabalha e desenvolve suas atividades corriqueiras na plataforma de metal montada bem a sua frente. E nesse quesito eu insisto em falar, que em uma era como esta, é impossível falar em organização. Como um ser humano tão errante, tão transgressor, tão desconectado e ao mesmo tempo tão conectado, pode conceber a organização como princípio fundamental de sua produtividade? Inconcebível. Ainda bem que meus olhos contemplam a triste realidade bem abertos. E como toda a cachaça, o indivíduo beberica, absorve, se embriaga e perde-se em um torpor infindo para depois voltar-se para si e perceber que tudo continua a mesma coisa. A fuga foi totalmente inválida, mas por algum momento ela realmente pareceu ser a melhor saída. Este deveria ser o Slogan desta Era, desta sociedade e de nossas vidas. Duas faíscas surgiram em minha mente ao refletir neste instante: primeiro, os conceitos apresentados pelo sociólogo Zygmunt Bauman http://blogdogutemberg.blogspot.com/2008/10/vivemos-numa-sociedade-lquida.html em sua Modernidade Líquida, acerca da Pós-Modernidade e que muito contemplam o estudo desta sociedade, ainda na faculdade, quando falávamos da identidade dos indivíduos na era em que vivemos, e tentávamos compreender, acima de tudo, quem somos, pois afinal, ninguém se dissocia do fenômeno estando plenamente integrado ao sistema. E segundo, na a maneira como percebo estes tantos indivíduos, amigos, não amigos, parentes, conhecidos que transitam em um mundo virtual que se trata de um espelho que reflete prazeres e satisfações momentâneas, na liquidez que faz dessas identidades por sua vez,  um espelho d´agua, ou de cachaça, onde eles instantaneamente modificam-se, assumem diferentes faces, tornando-se outros a medida que a necessidade convém. Que coisa mais louca, mas está e a nossa vida minha gentchy! E vamos nessa que agora só falta eu fazer o unpload e compartilhar o texto no facebook.